NOTA DE PALAVRA COMUM: O nosso colaborador permanente, Carlos L. Bernárdez, publica em Laiovento “Un pintor que sabía o que facía. Achegas á obra pictórica de Luís Seoane”. Com este motivo, publicamos um texto sobre o livro e esta entrevista co autor.
“Recóllense neste volume catro ensaios dedicados a distintos aspectos da obra plástica de Luís Seoane (Bos Aires, 1910 – A Coruña, 1979). Ao longo dos diferentes estudos saliéntase como o estilo creado e desenvolvido por Seoane durante máis de catro décadas é froito dun traballo intenso e rigoroso, que parte do coñecemento da modernidade internacional para a partir desta construír os alicerces dunha pintura profundamente galega, e que se sitúa fortemente inserido nos valores da tradición occidental, á que se achega con intenso rigor.
En contraposición co costumismo dominante en moitos pintores galegos, Seoane, partindo de temas semellantes, depura a linguaxe até converter os mesmos temas nun novo universo propio, que, sendo intensamente persoal, consegue que nos impliquemos neles, que os sintamos como algo que nos singulariza de xeito intenso, ao tempo intelectual e afectivamente.
Faise fincapé en que estamos perante unha pintura que é froito dunha elaborada reflexión e que tende a unha progresiva esquematización das figuras, favorecida polo uso dunha pintura plana e o contraste de cores e liñas interdependentes en equilibrio coa realidade.
Os logros deste labor, ben evidentes para quen se achegue á pintura, o gravado e o deseño de Luís Seoane, supoñen un dos capítulos máis importantes na construción dunha arte galega aberta e firmemente ancorada no mellor da correntes internacionais. A súa maneira de concibir a arte nace, xa que logo, de frutíferas estratexias de representación das que vai agromar parte do máis valioso da pintura galega do século XX.”
ENTREVISTA
– Palavra Comum: Qual é a tua perspectiva sobre a obra de Luís Seoane (em todos os sentidos)?
– Carlos L. Bernárdez: Seoane é um artista com muito de renacentista: é muralista, é pintor, é ilustrador, faz desing… Alguns de seus desing têm uma importância mesmo revolucionária no contexto da América Latina. Por exemplo, os que fez nos anos 50 de publicidade para Cinzano são hoje obras de referência nesse campo, realmente espetaculares. Os seus cartazes, a sua atividade como teórico, como escritor que também praticou todos os gêneros, é bem relevante. É nesse sentido uma figura chave na cultura galega.
Nas primeiras obras, as dos anos 40, pode-se ver que participa dos pressupostos formais do movimento renovador da arte galega que têm como ponto de partida um tipo de realismo de carácter social, com raízes muito evidentes, o que tem sido denominado “estética do granito”: Maside, Souto, Colmeiro, o Laxeiro da primeira época… Depois, sem renunciar aos valores temáticos de fundo, a elementos formais como a figura feminina, que tem um marcado simbolismo, a Mater Gallaeciae, que é oferecida quase como ícone, com uma presença plástica muito rotunda, Seoane vai construir um estilo próprio, moldando estilisticamente essa pintura e reformulando-a através de fórmulas modernizadoras. Chega assim a uma pintura planimétrica, como pode ser observado na sua obra a partir dos anos 50, e que se patentiza em um tipo de figura mais esquemática, elaborada em planos de cor e linha, onde as mesmas linhas funcionam como traços construtivos mas, ao mesmo tempo, autônomos.
Seoane reconhece que a sua inspiração estaria nas vanguardas históricas: o Picasso de um determinado momento, Léger, Le Corbusier, também em certo sentido Matisse… referentes modernos que ele conhece em primeira mão nas visitas a Europa -desde a Argentina- que faz no final dos 40.
Seoane é um exemplo de como pode ser conciliada a fidelidade à tradição e o cosmopolitismo. É um pintor que em momento algum renuncia à sua identidade nacional; reivindica-a e é uma pessoa muito comprometida com a língua, com a cultura galega e com todo o trabalho que foi feito a partir do exílio para perpetuar a nossa tradição cultural. Mas, ao mesmo tempo, é um artista muito cosmopolita. Ele acredita que para ser cosmopolita é preciso ser de um lugar. E se alguém vê os murais que fez na Argentina, reconhece-se esteticamente no que está a ver. É galego, mas ao mesmo tempo também vem a ser internacional. A sua obra é um exemplo de como, quando um tem algo a dizer e quer inovar, trabalhando a partir das raízes atinge sem problemas o espaço do cosmopolitismo. Além disso, Seoane consegue uma síntese da Galiza mais valiosa do século XX; uma Galiza criativa, orgulhosa de sua identidade nacional, respeitosa com os valores de sua singularidade histórica e artística. A ele interessa muito o processo histórico do povo galego, daí os temas como a emigração, que aparecem na sua obra com um acentuado carácter social.
– Palavra Comum: Que aspectos relevantes dela consideras que são ainda pouco conhecidos?
– Carlos L. Bernárdez: Entre nós, sem dúvida, o seu muralismo, realizado na Argentina. Luís Seoane fez uma produção mural enormemente ambiciosa ao longo de boa parte de sua trajetória artística, que juntamente com o desing vai orientar o sentido sintético de sua pintura.
O conjunto da obra muralística de Seoane, realizada na maior parte entre 1953 e 1968, é um dos grandes sucessos da nossa pintura do século XX. Os temas são de profunda presença galega, como ele lembrou muitas vezes.
Seoane ensaia nos seus numerosos murais uma enorme diversidade de técnicas: pintura com resinas sintéticas, têmpera, incrustações com mármores de diferentes cores, mosaico, cerâmica, metais, pedra picada e reconstruída na parede, vitrais, etc. As suas representações muralísticas potenciam a monumentalidade das suas figuras ao mesmo tempo que o seu estilo tende para uma progressiva esquematização das figuras, favorecido pelo uso de uma pintura plana, o contraste de cores e linhas interdependentes, em equilíbrio com a realidade arquitectónica.
De volta à Galiza, Seoane não pode levar a cabo uma obra muralística ou monumental de acordo com a sua trajetória, limitando-se a fazer murais ligados aos projetos de Sargadelos e O Castro, a que está intimamente ligado empresarial e intelectualmente.
– Palavra Comum: Que caminhos entendes seria interessante transitar nas artes, nomeadamente na comunicação com o público e a sociedade hoje?
– Carlos L. Bernárdez: Na minha perspectiva -e falo desde a Galiza-, acho que o artista não deve ignorar o diálogo com a tradição da que vimos -mesmo para negar a tradição-, mas também deve colocar o diálogo no âmbito universal, como já o fez historicamente a Geração Nós ou os artistas do Movimento Renovador da Arte Galega quando falavam de estabelecerem canais de comunicação direta com o exterior sem intermediários. O mesmo que depois, desde o exílio, concretizou boa parte do nosso mundo cultural (Seoane, Dieste, …). Continuarmos nesta linha -evidentemente com as variáveis do nosso presente- pode e deve contribuir para aumentar o nosso “espaço cultural próprio” (J. Habermas), que apenas pode existir se não for ao mesmo tempo “nacional” e “universal”. Os artistas precisam se posicionar em um processo de ação “reflexivo” e “dialogante”. Uma reflexão aberta que se pode manifestar em vários níveis: no plano do relacionamento com a tradição artística galega; em íntimo diálogo entre eles e, finalmente, em rica convivência com os demais agentes de produção e consumo de arte.
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