Regresso apenas para lhes dar breve notícia do 22º Festival de Poesia do Condado, que tivo lugar na vila de Salvaterra de Minho, os dias 4, 5 e 6 de setembro e onde tive honra e prazer de aparecer como convidado, ao lado de outros amigos poetas, nomeadamente, Xiana Árias, Paco Souto, Concha Rousia, Cruz Martínez, Alberto Lema, Igor Lugrís, Lino Braxe, Chus Pato, Pilar Beiro, Núria Martínez Vernís, o poeta saaraui Limam Boicha, Isaque Ferreira, Marica Campo, O Leo, Kiko Neves, Carlos Figueiras, Valentina Carro e María Lado.
Com uma excelente organização, num lugar magnífico e entre o sentimento -e aí sei que falo mais marcadamente por mim- de serena amizade e alegria que circulava polas ruas da vila minhota, recitais poéticos alternarom-se com concertos de alta qualidade, exposições pitóricas de interesse e outras intervenções artísticas. Para além da sublinhável poesia, especialmente do leque de poemas próprios e alheios que nos trouxo o poeta português Isaque Ferreira, temperados por aquele extraordinário estilo recitativo que ele possui, devo contar quanto de essencial achei no dia e na noite e, de passagem, recomendar um bom par de viagenzinhas íntimas que por acaso realizei. Uma delas foi a descida, entre recital e canção, às Covas de Dona Urraca, por baixo do lugar de jogos dos meninos de lá, que me quixo parecer ainda brincarem encapados nas vestes de esperança e ousadia que eu mesmo usava quando percorria a infância; e ali, no fundo das Covas, ali onde o meu telemóvel deixou de ser inusitadamente espanhol para tornar-se português e medieval, ali é que deparei com o centro da barriga do monstro, que dizem ser o mostrengo d’El-Rei Dom João segundo ou, mais claramente, talvez o próprio Ego: ali, ao fundo, debaixo de um urdume de arcos e abóbadas, o feliz viajante despistado pode entrar num quarto por completo circular em cujo centro a voz humana é escuitada como que a sair do próprio vertiginoso centro do planeta. Confesso que eu tive que escapar dessa espessa sensação antes que possível. A segunda viagem é a da noite, ao pé da muralha, quando do reino solar só resta um manto remendado de luzes, a abóbada da misericórdia que, talvez por contra-arrestar a geada que o rio gerava, inebriava a nossa palavra de um silêncio orquestrado e visível, a música única por sobre os nossos esboços. Apenas se me ocorre dar as graças, a quem corresponde, por tudo.
Pedro Casteleiro
P.S: A fotografia foi tirada no Condado por Estefania Blanco.
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