– Palavra Comum: O que é para ti a música?
– Sérgio Tannus: Para mim a música é vida, é levar boas mensagens às pessoas, alertas, reflexões, mudanças positivas, etc. Sinto a música como algo transformador, capaz de mudar todo entorno de uma pessoa ou sociedade. A música para mim é um veículo que me leva a lugares desconhecidos… sem medos ou limites. Sou mais feliz quando estou vivendo sob sua proteção e quando através dela consigo me expressar levando aos que a escutam bons sentimentos e otimistas emoções.
– Palavra Comum: Como entendes o processo de criação artística?
– Sérgio Tannus: No meu caso depende muito. Às vezes a inspiração do tema da canção chega muito antes da própria canção. Outras vezes me inspiro e faço uma letra refletindo sobre algo e somente depois me meto a botar melodias e acordes nisso. Outras, começo a improvisar num instrumento e em seguida vem a ideia de uma letra e melodia. Algumas vezes me saem a letra e canção exatamente juntas. Mas também tenho canções começadas que estão pendentes de terminar há muitos anos. Então não sei se existe mesmo um processo de criação no meu caso. Pois busco permitir que minhas canções e processo criativo se manifestem como e quando queiram… com total liberdade.
– Palavra Comum: Qual consideras que é -ou poderia ser- entre a música e outras artes (literatura, artes plásticas, audiovisual, fotografia, etc.)?
– Sérgio Tannus: A música tem um efeito bastante imediato nas pessoas que a escutam. Penso que qualquer imagem junto a uma música bem composta consegue expressar ainda mais a mensagem desejada. Penso na música como a banda sonora da vida. Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras e estou de acordo. Mas acrescento que uma imagem acompanhada de uma boa banda sonora vale e diz ainda mais. Todas as artes são transformadoras… a única diferença e vantagem que eu poderia dar à música é seu infinito alcance mundial. Pois uma mesma canção pode ser executada e escutada… causando emoções (mesmo sem saber o idioma e a letra) em milhões de pessoas do nosso planeta… simultaneamente.
– Palavra Comum: De quem te sentes, criativamente, filho ou irmão?
– Sérgio Tannus: Me sinto filho, pois busco escutar e interpretar o que pede meu coração… que tento manter fiel e conectado com a mãe natureza e o universo… nossos verdadeiros pais e criadores.
– Palavra Comum: Que músicas/músicos reivindicarias por não serem suficientemente conhecidos (ainda)?
– Sérgio Tannus: São muitos grandes artistas, músicos e poetas (alguns inclusive amigos e que conheço pessoalmente) que ainda são desconhecidos do grande público. Mas eu preferia não citar nenhum nome em específico porque creio que seria injusto com os muitos outros não mencionados. Mas posso acrescentar que muitas vezes tento fazer “justiça” a esse desconhecimento… gravando suas canções ou musicando suas lindas poesias em meus projetos musicais e Cds.
– Palavra Comum: Levas morando um tempo na Galiza. Qual achas que é a relação existente entre a música galega e a brasileira?
– Sérgio Tannus: Na música digamos comercial, a que toca para o grande público, não há muita relação na minha opinião. Ali no Brasil o mercado discográfico e radiofónico é bastante fechado e restrito às grandes discográficas e multi-nacionais… e visam muito os números… e vender milhões de cópias, etc.
Mas no mercado menos comercial… onde a música pode fluir naturalmente e respeitando mais as raízes e cultura de uma região… aí sim vejo muitas semelhanças entre nossas culturas e música.
Quando me chamaram para fazer uma conferencia pela primeira vez sobre esse tema eu tinha pouco tempo de Galiza… mas já atuava com muitos grupos de música galegos (alguns inclusive de música tradicional) e tive a oportunidade de traçar parâmetros e fazer comparações rítmicas e melódicas… e realmente encontrei MUITAS semelhanças. Principalmente no nordeste brasileiro (onde a imigração galega foi mais presente) notam-se bastante essas raízes e pontos em comum.
– Palavra Comum: Que caminhos (estéticos, de comunicação das suas criações à sociedade, etc.) estimas interessantes para um músico no dia de hoje?
– Sérgio Tannus: Para mim o melhor caminho é o da diversidade. Quanto mais aberto ao novo e a coisas menos óbvias (em todos os sentidos e planos) melhor. Não se consegue alcançar a plenitude e maturidade musical desconhecendo ou desprezando tantas possibilidades e estilos artísticos que temos ao nosso redor. Por melhor que seja um músico ou artista em sua área… ainda melhor ele será se estiver aberto a aprender, a escutar, a assimilar o melhor de outros estilos… e ousar passear por novos caminhos de se expressar e fazer arte. Eu sou da corrente que quanto mais aberto e menos preconceituoso é o artista… mais criativo e talentoso ele será quando tiver alcançado seu próprio estilo e sua maturidade profissional.
– Palavra Comum: Que projetos tens e quais gostarias chegar a desenvolver?
– Sérgio Tannus: Tive a honra de participar e ou co-produzir muitos projetos de artistas galegos. Depois de 6 anos de colaborações por fim decidi gravar meu próprio projeto chamado Son Brasilego., o qual me orgulhei muito e agradeci imensamente na mesma proporção, pois foi como um sonho realizado escutar minhas canções sendo interpretadas por tantos e grandes artistas galegos da lusofonia. Foram 43 colaborações além da banda base formada por meu trio… e que para minha alegria e surpresa ganhou 5 estrelas e ótimas recomendações da Revista World Music, entre outros meios especializados em música do mundo.
Como tive pouco tempo para me dedicar a esse projeto depois que foi lançado (por colaborar em muitos outros projetos) recentemente me liberei profissionalmente de alguns… e me metendo novamente a movê-lo programando uma nova e divertida turné com meu trio… que é formado por 2 grandes músicos e amigos chamados Paulo Silva e Gutier Álvarez. Brevemente estarei também produzindo e lançando um livro-Cd infantil que muito está me alegrando e inspirando. Pois estou mais que comprometido e envolvido com inúmeras produções infantis aqui na querida Galiza. Mas sobre isso mais adiante darei mais detalhes.
– Palavra Comum: Que achas de Palavra Comum? Que gostarias de ver também aqui?
– Sérgio Tannus: Acho muito interessante e de alto valor cultural. Tanto a iniciativa de promover estreitar esse intercâmbio entre nossas culturas e artes… como abrir espaços para as diversos discursos e pontos de vista. Tudo hoje em dia que seja relacionado a unir, esclarecer e informar… é mais que bem-vindo e necessário.
You might also like
More from Entrevistas
Tono Galán expus na Corunha | Alfredo J. Ferreiro
Tono Galán (A Corunha, 1967) é um artista corunhês muito polifacético que, embora se esteja agora a dedicar fundamentalmente à …
José-Mª Monterroso Devesa: as suas e as nossas teimas | Alfredo J. Ferreiro
Em dezembro de 2023 aproveitamos a oportunidade de parabenizar o amigo José-Mª Monterroso Devesa pela publicação do seu último livro, …