Despois da primeira operaçom e quando foi possível, Lua tomou o leite que eu ia tirar com a máquina mungidora num quarto desangelado do hospital junto com outras mais. A sensaçom de mungir gota a gota para trazer-lhe ao bebê na incubadora era para mim umha sensaçom tam antinatural que fazia com prazer e com pesar também. Ao chegar à sala de neonatologia um sorriso de grande felicidade invadia-me sempre porque levava de comer a Lua. Umha vez que me inteirei das lesons neuronais seguim intentando-o, mas o meu corpo estava tam doído que nom dim feito com as lágrimas, a cólera, tarde em pé diariamente, a comida … O último dia tirei apenas duas gotas e levei-nas no frasco de tampa azul: esse mesmo dia encontrei umha mai no quarto da mungidora que sacava “litros”. Eu olhava para ela e pensava: E nom podia roubar-chos? Os meus pensamentos forom congelados quando sem piedade ela dixo: “Yo a mi hijo lo desteto en breve, ¿o qué se va a creer?” Respirei, baixei a cabeça e nom dixem rien porque o que me apetecia só era dar-lhe um abano de hóstias sem fim.
Aos poucos fum-me dando conta do desinteresse e ignorância sobre o assunto de amamentar. Acho que politicamente não é muito importante. Nom existe movimento real para criar o banco de leite em Galiza: por que ia haver? Nom é necessário. Houvo um anteprojecto no Teresa Herrera mas nom calhou. Graças a grupos de aleitamento espalhados pola nossa geografia e à nova equipa de saúde com outra consciência, vem-se pequechos do que som grandes mudanças. Entom pensava muito nas mulheres galegas que davam de mamar aos meninos burgueses de Madrid e Barcelona, ou de bretoas que deixavam o leite em Paris. Entom pensava que Lua, filha galego-bretoa nom tinha essa sorte. Entom era curioso para mim abrir o facebook e ver como ia o mundo encontrar panfletos e conscientizaçom sobre o aborto, por exemplo (com o que eu concordo). Mas entom e agora os cabos cruzam-se fazendo-me associaçons que deitam luz aos excessos de informaçom que invadem todos os cantos do planeta: difícil colocá-las às vezes. Entom eu estava preocupada em manter a vida, e seguindo sempre a baby lutadora, preocupada porque eu rematava o leite e Lua ia passar a leite de fórmula sem que eu puder fazer nada. Entom lim inteiramente um tocho de livro sobre a lactaçom com o que me agasalhou uma grande amiga matrona que estava desde o início perto de mim, a minha querida Sónia, e com a leitura mais medrava a minha impotência. Entom nom vim daquela um movimento tam compreensivo entre artistas, culturetas vários e feministas com chapa e bandeira repetidoras dum geral manifesto correto, nom vim daquelas que berram que fossem espelho da minha situaçom, existiam daquelas que cantam e berraram também a necessidade dum banco de leite? Cheguei a escrever a algum membro amigo do BNG …. Um arrebatamento! Cheguei a gritar no meio da rua com a amiga Sónia ponhendo-lhe a culpa a ela como funcionária do âmbito sanitário por nom ter feito nada. Quando aperta a raiva a senhora culpa dispara-se para todos os lados possiveis. Mesmo desejava que me fixessem uma entrevista a nível galego para ampliar o valor dumha gota de leite materna. Cheguei à paranóia ou talvez nom tam tava louca? 😉
Aguantei dous meses com mungidora e veio a segunda operaçom em que tivemos um dos milagres que nos acompanham desde o nascimento desta pequena guerreira. Estando na sala de espera atendendo a como ia Lua das operaçons encontrei umha enfermeira do Departamento de Neonatologia de Lugo. (Lua nasceu em HULA de Lugo -Lugo é o monte de luz- e foi internada de urgência aos três dias no Teresa Herrera por nom expulsar o mecónio.) O doente reconheceu-me como mai da pequecha alta prematura e dixo-me que estava ainda guardado o calostro que ia tirar depois de nascimento no hospital de Lugo (primeiro leitinho cheio de anticorpos e saúde). Com esta informaçom a operaçom nom podia dar errado, porque tínhamos visto um anjo e corrim a contar isso a Doutora Taboada: ela dixo que seria a primeira cousa que poderia fazer depois de costurar os intestinos, a melhor dose do mundo … (Guardo grande apreço a Taboada, como a todos os médicos e pessoal do Teresa Herrera que vivirom esta singradura com nós). Entre hospitais nom se enviam semelhante ouro, tivo que ir buscar meu pai e um amigo ferralheiro o calostro a Lugo e transferi-lo com grande amor à Corunha numa geladeira laranja da Ferretaria Fuentes que ainda continua a ser a geladeira de Lua. Entom, ao sair salva de cirurgia e depois de passar os dias de rigor da anestesia que forom menos dos estipulados, Lu conseguiu tomar o leitinho dourado.
Este inverno tenho tocado em espectáculos bons para a minha saúde mental. Às vezes sem cachet e sem informaçom precisa de onde ia o meu dinheiro. Qual era o seu valor? Quem cobra e quem nom? Nalgum caso pensei, o meu cachet poderia tar bem melhor em algumha família com crianças com paralísia cerebral ou numa primeira conta bancária, de leite. Daquela nada dixem nem fixem. Porque ultimamente adico-me muito a observar, calar, ao dinamismo estático e assim podo ver toda classe de estrelas e toda a merda da humanidade, isso que segundo di Mov, aduba como o amor.
Umha cançom que ainda nos acompanha desde aquela:
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