Aldo Pellegrini (Buenos Aires 1903-1973), grande poeta e ensaísta mui pouco conhecido cá na Europa, propõe-nos um exercício de libertação do ser humano através do fogo primeiro do poema, como janela para a respiração no enclaustrado século XX que lhe tocou viver, e que ainda manifesta muitas das suas lacras (algumas acrescentadas) nos dias de hoje.
A sua obra expõe a necessidade, inadiável, de convergir a nossa existência com os espaços privilegiados de participação na Vida, face a quaisquer limitações. Há na sua proposta um exemplo claro da necessidade de libertar o furibundo poder subterrâneo que habita em nós: contrário a qualquer opressão sobre a realidade inegável da poesia, ou o que é o mesmo para ele, da parte mais alta do ser humano.
Em palavras suas:
“Abierto el camino de la libertad por la poesía, se establece automáticamente su acción subversiva. La poesía se convierte entonces en instrumento de lucha en pro de una condición humana en consonancia con las aspiraciones totales del hombre. Ceder a la exigencia de la poesía significa romper las ataduras creadas por el mundo cerrado de lo convencional.”
Esta concepção não remete, porém, a uma visão reducionista da poesia como meio de intervenção estritamente social, esquecendo a tensão própria do texto poético para virá-lo dependente de uma ideologia. É, como nos diz ele, uma autêntica viagem de (re)conhecimento:
“La libertad vive en la poesía misma, en su manera de expandirse sin trabas, en su poder explosivo. Está implícita en el acto de la creación, en ese modo de surgir de las zonas del espíritu donde reina la insumisión, donde es libre en todas sus dimensiones. (…) Allí se establece el vínculo real con el mundo a través de la única vía libre que lleva al universo todo. La poesía tiene allí su imperio, y allí están las fuentes de la imaginación creadora que participa con las potencias del amor en la construcción del ser auténtico.”
Estamos ante uma chamada infatigável para nos levantar da limitação, da presença constante das máscaras impostas à nossa vontade de libertação. Avisa-nos da relevância de continuarmos a procura, talvez necessariamente solitária, desse caminho iniciático de fazer aparecer o sol na Terra, como plantejava não há muito um levantador da palavra entre nós.
O nosso coração faminto da verdade reconhece na obra de Aldo Pellegrini um espaço onde demorarmo-nos no nosso caminho, sem final nem princípio, como uma estrela caída desde a noite fecunda do surrealismo sobre as nossas mãos eternas.
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