Andam os peixes repetidos. E as pedras. E as borboletas. Apenas os sons exaltam os sorrisos. Gritam as árvores a morte do diálogo entre civilizações. E tudo isto corresponde à inteligência exterior dos fluidos. Metes-me medo. Eu próprio me meto medo. Por isso as teias de aranha envelhecem na elocução hirta dos buracos. Tenho saudade das rodas velhas dos carros e das curvas alongadas das meretrizes bíblicas. E também tenho saudades da abundância de necessidades. A sombra das primaveras fixa o silêncio ensurdecedor dos poetas malditos. A febre dos loucos devora as macieiras em flor. Sinto uma tristeza imensa por não te conseguir cinematografar. Sei que sustentas o inferno nos sonhos intoleráveis. Uma mão deforma o amor e as palavras sinceras provocam a guerra. Oiço o espanto vertiginoso de Deus. Deus floresce imóvel na enxurrada do espanto. Deus é uma paixão concentrada na enorme inocência dos homens. Falam-me em beleza e eu respiro reticências. Falam-me em verdade e eu respiro reticências. Moram a meu lado a lentidão, o espanto, a perseverança e a crueldade. O homem devora a humanidade de Deus. Deus alimenta-se da mortalidade do homem. O azul basta-me, não o céu criptogâmico. Hoje escuto-me no inesgotável deslizamento do silêncio. Agora, só agora, consigo escutar a verdade da matéria. Tudo está ligado por átomos e pelo vazio.
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