Nos anos 90 o maior interese do periódico A Nosa Terra para min residía no amplo espazo dedicado ás cartas dos lectores so o epígrafe de “A Aldea Global”. Constituía un foro invulgar que daba pé á intervención do público galeguista e funcionava como unha sorte de rede social incipiente con soporte de papel. Moito botei en falta aquel espazo despois, que sempre lía e que en abondosas ocasións usei tamén con pseudónimo. Outro dos meus nomes de guerra era Cándido Castro, e así atacaba certas actitudes da crítica literaria, que para min resultaba, na altura, adocicada até a náusea. Permítanme que oculte o nome do reseñador criticado naquela intervención, pois non era a miña intención atacar as persoas mais os modos de proceder.
«CRÍTICA OU ESCOLA DO PANEGÍRICO?»
(A Nosa Terra, A Aldea Global: 29/6/95)
Recentemente tivem a oportunidade de assistir à apresentação (ou comentário, não lembro) de um livro de poesia erótica de X. L. Méndez Ferrin (Erótica, 1991) aqui, na Corunha, na cidade mais galega da Galiza. Com o interesse no cérebro e a esperança no coração, lá fum, à Real Academia Galega.
Não curando de fazer uma crítica dos poemas do Ferrin, antes preferindo observar a crítica feita deles polo XX XX XXX XXX [espero que desculpen os reparos de quen hoxe evita ofender], o meu interesse -polos poemas- foi crescendo, a minha esperança -pola crítica- foi morrendo. E foi mesmo assim, pois maior insulto aos poemas de um autor não se pode fazer do que o senhor XXX fixo, que é o de demonstrar que não viu nada interesante nos pré-citados poemas do senhor Ferrin.
Assim, o destemido crítico, depois da sua «profunda leitura» dos poemas, não conseguiu muito mais do que dizer que “Ferrin trata «tal cousa» num fermosíssimo poema” ou que respeitava Ferrin “polo seu radicalismo, pola sua ética radical, sincera e brava ao mesmo tempo”.
Resulta muito triste, e não sei como é que o senhor Ferrin não entristece durante algum decénio, ver fazer uma crítica de poemas julgando formosuras sem as justificar nos textos e excelências estéticas a partir da ética radical da pessoa que os concebeu. Assim as cousas, só é possível uma trina desmembração conclusiva:
1. Se estes poemas não suscitam nada no cérebro dos expertos, que interesse terão para a gente da rua?
2. O intrépido crítico tem mais vontade de aventura científica do que massa encefálica ou capacidades técnicas para a análise literária. É apenas um sentimental.
3. Quando alguém anuncia a actuação de um crítico de poesia deveremos pensar que o que se oferecerá não será cousa diversa do que um panegírico sentimentalóide, onde a sensibilidade barata será fecundada em detrimento da argumentação fundamentada.
E é que manobras deste tipo parecem dirigidas ao afiançamento totémico (pode-se observar no dicionário o que significa «totem»: “nos clãs ditos totémicos, das sociedades primitivas, objecto ou ser vivo, geralmente un animal, considerado muitas vezes como antepasado comum, e que serve de símbolo para a unidade do clã, cujos membros participam da natureza do seu totem, ao qual se vinculam ainda por deveres e tabus particulares”) de certos valores, obras e nomes com o ùnico fundamento próprio das questões de fe (“primeira das virtudes teologais, graças à qual acreditamos nas verdades reveladas por Deus; adesão aos dogmas de uma doutrina religiosa considerada revelada”), polo que toda afirmação razoada, dentro da própria tribo, é excusada. Desta perspectiva, o que se está a fazer, ao meu ver, através deste tipo de não-crítica é um lavor de mitificação, quer dizer, uma valorização estética fundamentada nos parâmetros subjectivos e específicos de uma utilização transitória da arte.
Mas talvez algum dia -isso procuramos, por isso luitamos- a opressão cultural que a Galiza sofre desde a Espanha chegue a cessar -ou oprimir de leve-, e será então que essa visão tão «específica» e «produtiva politicamente» da literatura declinará em favor de uma mais objectiva de um ponto de vista literário, olhando-se os textos não de uma perspectivação «religiosa» ou social, mas só o texto “subsistindo enquanto forma puramente estética, liberta de um uso extra-literário que, de resto, retira o mito do próprio contexto estético social” (Nuno Júdice).
É então que acontecerá que, já no domínio do intraliterário, desde que formas objectivas, “com uma construção e uma matéria concretas”, os textos literários hipervalorizados cairão a pique como um avião ferido nos campos floridos da nossa esperança. Pois a força da arte, mesmo a que pode trabalhar para que o povo do que surge defenda e fecunde o seu espírito, radica na qualidade, mais do que na quantidade, da sua voz.
Cândido Castro (Artesão. A Corunha)
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