O fôlego aprisiona meu pranto
Deixo-me enlaçar por um fogo
Ingênuo
Como o decorrer dos dias
Em que o fôlego aprisiona
O meu pranto
A luz entra pela janela
Atravessando a bruma
Esbranquiçada
Do claustro
De uma flor em agonia
O derramamento da brasa
E do suor
Lento em seu desassossego
Encontro-me
A caminhar por essas ruas
A esmo
“Cantaste-me para a loucura,
Beijaste-me para a insanidade”
Hefesto
Fogo fátuo
Desmanchando-se em fios
De ouro
Percorre-me os lábios
Como um silêncio
Que se alastra no vazio.
* “Cantaste-me para a loucura, beijaste-me para a insanidade” trecho do poema “Mad Girl’s Love Song” de Sylvia Plath.
*
Lonjura
Deixe-me amar-te
Como uma mulher,
O ar pesado
Comprime
Meus dedos
Ainda enrugados.
O cabelo molhado
Tece um rastro
Do quarto ao banheiro.
Manhãs dissipam-se
Em sonolência
Ergo as pálpebras,
E a inconsistência
Dos dias
Insiste em renascer.
Cambaleando
Entre corredores
Esparsos.
Letras escrevem
As chuvas de março,
Desejos encontram-se
No vão dos ecos
Inimagináveis.
O mistério finda
A concretização
Do desejo.
Em uma fissura ínfima,
Clausura íntima,
Pinçando frases desnudas.
*
Dalila
O início de um dilúvio
À deriva, ao raiar da aurora
Um novo augúrio
Educar meus olhos
Educar meus lábios
Amar-te silenciosamente.
Perto da silhueta
De árvores silenciosas,
Deixe-me dançar
Como Dalila,
Enquanto firmo os pilares
E ensino-te
Uma nova forma de perigo.
Como adestrar
A raiva convulsa,
Diante da sutura
Imediata das palavras.
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Mariana Artigas é curitibana. É atriz, formada pelo Colégio Estadual do Paraná e graduanda em Letras Português-Inglês pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. É poeta e revisora. Desenvolve trabalhos com poesia e fotografia, investigando o sensível, o feminismo, e o universo cênico. E já colaborou com diversas revistas e portais de poesia.
Foto da autora por Amanda Vicentini.