Odiais-nos,
por isso é que os vossos paus
batem contra o nosso coiro,
sabeis que as feridas
já não dobram a nossa vontade,
que o sangue que ontem derramamos
é guieiro da semente que virá.
Temeis-nos,
por isso é que as vossas sereas
andam na nossa procura,
sabeis que a morte,
sempre generosa com a pobreza,
já não nos rouba o sono,
que os grises muros de desprezo
serão, para nós,
lenços onde cultivaremos
ondas da nossa rebeldía.
Caminhamos,
porque decidimos ser
luz na imposta e secular escuridade,
porque queremos recuperar
a dignidade secuestrada,
porque aprendemos que,
aínda que fuxamos,
teremos que lutar,
porque comprendemos que,
a história se repite
e, desta volta,
estaremos preparados.