pacto
fiz um pacto com o quarto
onde tu dormes
enfiei-me
na hora do teu sonho
para colocar uma pena macia
na tua testa
e levar-te a mão à fonte
da alegria longe da tua dor,
tarde na noite inseri-me
nas paredes que olham a tua cara
como um banqueiro pessoal
rígido e severo
que te quer impor
uma hipoteca a um preço
da vida
agarra e vai
além de tempos capazes e
destinados ao amor humano
dentro do relógio de pêndulo
entrei para medir o teu tempo
mergulhei no teu copo de água
para que me bebas quando estiveres desolado
para que bebas a vida que está em mim
por fim eu pedi às janelas fechadas
para cegarem a luz dos teus medos
para mitigarem as pálpebras
fracassadas ao acordar
eu lá estarei
apenas com o ar
que respiras
*
eco do silêncio
não te pergunto porquê
porque nada se pergunta.
não conheço o motivo dessas cartas.
só tenho uma vaga lembrança. a memória
profana. sei muito bem como cantar as relíquias dos indignos.
só eu sei como isso acontece. já sei como a sombra cai
por trás da cortina das tuas noites brancas. por trás das tuas palavras.
e te faz esquecer a luz. o tremor indelével.
a alegria calada na tua garganta. também sei como se afoga
a tua resposta no eco vagabundo do teu silêncio:
eu sei. ainda sei como matas o teu coração primeiro
antes de me matar por dentro.
(Tradução da autora. Revisão por Tiago Alves costa)
**
Natasha Sardzoska (Skopje, 1979) é uma poeta, escritora, jornalista, antropóloga, professora, artista de dança e tradutora (FR, ES, IT, EN, PT, CA) da Macedônia. Viveu em Paris, Roma, Milão, Stuttgart, Bruxelas, Lisboa, Heidelberg, Perpignan, Barcelona e Skopje. É doutora em antropologia pelas Universidades Eberhard Karls em Tübingen, Sorbonne Nouvelle em Paris e Bergamo como bolsista Erasmus Mundus. Publicou os livros de poesia: O Quarto Azul, Pele, Ele me arrastou com um fio invisível, Água viva e Cóccix, ensaios em revistas internacionais, contos e colunas. O seu livro Piel é publicado nos Estados Unidos e na Itália, e seu livro Coxis é publicado no Kosovo e na Itália; a sua poesia é traduzida em mais de 15 línguas e publicada em revistas literárias internacionais. Participou em muitos festivais literários, incluindo: os Festivais de Poesia de Bratislava, o Festival de Parole Spalancate em Gênova, o Festival de Poesia de Berlim e ao festival de poesia Sha’ar Helicon em Tel Aviv acompanhada de saxofone, contrabaixo em improvisação de dança contemporânea, como tambèm nas cidades Sofia, Belgrado, Rijeka, Skopje. Ela apresentou a sua poesia no Museo Revoltella em Trieste e no Palazzo delle Esposizioni em Roma. O seu poema Marionete é publicado em inglês e espanhol na antología internacional contro o abuso das crianças do Scream of Women International Festival. Ela é a primeira e única tradutora José Saramago, Mário de Sá-Carneiro, Camões, Braga, Carvalho, Bojunga e Correia para macedônio.
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