Natasha Sardzoska (Skopje, Macedônia, 1979) é poeta, ensaísta, escritora, tradutora e intérprete literária da Macedônia e trabalha com várias línguas (francês, italiano, espanhol, inglês, português, croato e catalão). Doutora em Antropologia pela Universidade Eberhard Karls de Tübingen, Universidade Sorbonne Nouvelle em Paris e Universidade de Bergamo, atualmente é pesquisadora afiliada do Centro de Estudos Avançados do Sudeste Europeu, em Rijeka, na Croácia, e professora assistente do Instituto de Antropologia e Etnologia da Santos Cirilo e Metodio University em Skopje. Colaborou com inúmeras revistas literárias italianas e hispano-americanas. Escreve sua obra principalmente em macedônio e italiano, e se auto traduz em inglês, espanhol e francês. Tem poemas traduzidos em mais de 15 idiomas, publicados em revistas e antologias internacionais. Entre suas publicações mais recentes estão os livros La camera azzurra, Pelle (publicado nos Estados Unidos e na Itália) e Osso sacro (Milão, Interno Poesia, 2019), escritos em italiano; desse último livro foram retirados esses poemas. É a tradutora em macedônio de, entre outros, Pier Paolo Pasolini, Umberto Saba, Eugenio Montale, Eduardo Sanguineti, Andrea Zanzotto, José Saramago, Fernando Pessoa, Antonio Tabucchi, Gonçalo Tavares, Mia Couto. Como poeta, foi convidada para inúmeros festivais literários internacionais, quais Ars Poetica Festival de Bratislava, Poesiefestival de Berlim, Parole Spalancate de Genova, Festival Internacional de Poesía de Medellín na Colômbia e o Festival Sha’ar em Tel Aviv.
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Selvagens no coração
(four hands)
Partiremos
nós somos os prófugos
forjaremos o silêncio dos novos países
não descobertos
ousaremos a liberdade
não obedientes
semearemos a semente que arde
gostaríamos
pelo menos por um tempo
de sermos vizinhos
nos dois átrios
de nossos corações
*
testamento
meu pai me disse
é preciso ter velas em casa, sempre,
por si faltar a energia
se ocorrer um curto-circuito
para que eu possa ver
com clareza
mas queria me dizer
devo fazer o pacto
se tocarem à porta
não devo cair
para que não me cegue
o brilho da manhã
*
escamas
verifico e procuro
o homem que uma vez já fui
e procuro a concha
presa na garganta
nos papéis vazios
as gotas de tinta
os filamentos dos nervos
sobre meus dedos
nas areias movediças
minhas pernas inchadas:
da roupa íntima
que nunca
jamais vesti
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