Bouquet
Ramalhete
tomado com o assalto
de dois goles súbitos –
a presença encorpada
em doçura crescente,
insuportável de júbilo,
excessiva
como um lírio.
*
Narcisos
O olho esquerdo
agarrado a si mesmo,
o outro se distrai anguloso –
mas o mundo entorna e volta
a cada respiro
ao próprio nariz –
estão estrábicos de redundância,
empertigados,
impregnados de si.
*
Fototrópica
O pescoço doído
de tanto se esticar
para olhar –
onde será que ele ia.
Inclinada de intenção,
semi-caída.
Explícita, até o sol
mudar súbito e arredio.
*
Caduca
Meus olhos acostumados
já discernem as sombras
do mar noturno –
no escuro,
a árvore se sacode.
O que se agita –
as folhas brotadas há muito
ou os morcegos dependurados?
A copa não perdura –
arfa à onda do vento.
Deixará os galhos
sozinhos,
evaporada entre as nuvens.
*
A cadeira
A palha respira
uma vez por minuto,
faz que há uma traça
indiscreta entre as fibras.
Contraída, a madeira
se prepara pro estalo
e pergunta se acho
que está mesmo dormente.
– Não me tivesse cortado
ontem,
ainda verde.
Continuarei crescendo silente
até me entortar
e derrubar seu repouso
com um baque!
Barulho de árvore.
**
Isabela Sancho nasceu em Campinas (Brasil) em 1989. Formou-se em arquitetura e também estudou desenho. Integra o corpo de poetas do portal Fazia Poesia. É autora e ilustradora dos livros de poemas “As flores se recusam” (Editora Patuá, 2018 – menção honrosa no Prêmio Glória de Sant’Anna 2019, Portugal) e “A depressão tem sete andares e um elevador” (Editora Penalux, 2019), e também da plaquete “Quem fala em seu nome” (Editora Primata, 2019).
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