As palavras erguem-se iluminadas pelos bichos. Eu sou a sua solidão. O tempo suspende a sua presciência. Deus é explícito no afastamento. Arrepia-me a sua omnipresença gélida. Vou longamente cantar as flores de água. Em cada filho existe uma dor silenciosa. Em cada criatura canta um incêndio assombrado. Toco o peso da vida e invento a loucura íntima do pudor. Eu sei que a espuma da memória se confunde com a consagração da imobilidade. A carne cresce na insuportável ternura da manhã. Beijo os teus olhos e morro na entrega da tua boca. Os meus dedos mergulham no teu júbilo. Todo o louvor é um mapa cego. A morte queima a pesada embriaguez da doçura. Alguém grita uma imagem cega. O teu espaço devorado volta a atravessar a memória. Sou agora uma criança desdobrada. Subo cingido pelo assombro da minha respiração. A cor intrínseca dos teus olhos explicita a gramática da paixão. Outro é o segredo rompendo pela boca. Folheias as minhas mãos vazias. Sou agora o abismo que expande as linhas do horizonte. Sinto o fio longo da tua língua pousar sobre os meus lábios fechados. O teu olhar é um pensamento ameaçador. Visito o teu sexo inclinado na luz violenta do desejo. A manhã começa agora a dispersar a luz fina do mundo.
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