Aos meus alunos.
E contavam a cegueira de um pássaro nos corredores brancos
os lírios dormidos na tua cabeça de infante
e o tempo que passa.
A aula que começa desde as côncavas naus de Homero
e os teus olhos como numa galáxia distante.
Ouvimos Parménides ou Anaxágoras ou Empédocles de Agrigento
sim , Empédocles vibra em nós. Há um momento de silêncio
e a filosofia é possível,
justo quando o teu olhar está ausente a filosofia é possível
quando as palavras chegam ao seu fim
podemos realmente falar
e sentir o assombroso mistério do rosto
o assombroso mistério de estarmos aqui
simplesmente de ter cinco dedos de cada mão
e de caminhar sem eloquência ao estilo dos pássaros
e de navegar pelas rosas do outono e os pensamentos vadios
tão simplesmente
que de súbito começamos a rir
e explodimos numa gigantesca gargalhada
e o bom é que não sabemos porquê
(E contavam a cegueira de um pássaro nos corredores brancos
os lírios dormidos na tua cabeça de infante
e o tempo que passa)
O repenicar das campainhas de cavalos ao longe
Caminhando no meio do mar
Sabes?, gosto tanto de ti…!
gosto tanto do teu cabelo de mel
dos teus olhos de madeiras nobres
gosto tanto do teu olhar fugidio
do teu sorriso matinal
da tua seriedade noturna
gosto tanto das tuas pequenas fraquezas
Sabes?, gosto tanto de ti!
que não há infâmia nem glória futura que aniquile os meus dias
Porque, sabes?, houve um Big Bang que não foi realmente um Big Bang
e todos agora estamos novamente á beira da grande gargalhada
e o bom é que não sabemos porquê.
E continua a aula de filosofia
e também não sabemos porquê…!
*
Poema na voz do autor, com música de Yann Tiersen
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