Nestes días andaba a pensar como había de homenaxear o periódico A Nosa Terra, que me acompañou desde que nos anos 90 comecei a andar preocupado máis do que cunha renovación da literatura galega, cunha mudanza xeral de actitudes que, a modo de catalisador imparábel, dese no orgullo interior e na divulgación exterior do talento que nos caracteriza. Na altura, era eu atrevido, comprometido e irreverente até extremos que agora, máis prudente ou simplesmente máis vello, non me atrevo a confesar. Mais si serei capaz de mostrar un dos pseudónimos que utilizaba nas cartas que enviaba para a súa publicación no periódico. Algunhas delas, como as que aquí republico, eran lúdicos e rigorosos plaxios de artigos de intervención de José de Almada Negreiros en que mudaba Portugal por Galiza e logo mandaba asinados como José Dalama, apelido que simplemente consistía nun José Almada de disléxico.
SOBRE OFÍCIO E ARTE
(A Nosa Terra, A Aldea Global: 1/2/96)
A Arte é um mundo artificial; com o mundo natural tem apenas a coincidência da oposição. São dous mundos opostos: um natural, espontâneo; outro artificial, construído. De comum entre ambos há apenas a vida. A sua oposição é assim como se a vida tivesse de vir um dia para decidir-se finalmente por qualquer dos dous. Entre Arte e Natureza não existe espécie nenhuma de concordância a não ser a disputa para o resultante vida. Esta disputa não faz afinal senão reforçar entre ambas o mais absoluto dos antagonismos. A Arte não só não copia a Natureza, como também apenas começa imediatamente depois de ter tomado conhecimento dos limites próprios do que é natural. O próprio da Arte é ir diante do que acontecerá. Porque o que aconteceu já foi escolhido antes pola Arte. Mas, francamente, nós não devemos continuar a fazer estes merecidos louvores à Arte sem que primeiro digamos o que ela significa exactamente. Senão poderíades pensar que estamos elogiando precisamente essa opinião que cada um pode ter de Arte. Ora, começa por que Arte não é uma opinião, é um conhecimento.
Em geral, costuma-se chamar artista ao escritor, ao pintor, ao escultor, ao arquitecto, ao compositor de música, etc. Ora, tanto o escritor como o pintor e qualquer dos restantes não só não são artistas como podem até não chegarem a ter alguma cousa que ver com Arte. Ser escritor, pintor, escultor, arquitecto, etc., não é Arte, é o ofício de escrever, pintar, esculpir, construir casas, etc. É uma profissão como qualquer outra. A Arte diz respeito ao indivíduo e nunca, por nunca ser, à sua profissão. A Arte não tem por limites a probidade profissional. É já a dignidade dos próprios sentidos do indivíduo. O artista não é: apenas o indivíduo profissional, é incomparavelmente mais do que isso, é já o indivíduo enciclopédico.
Actualmente destaca-se a arquitectura (ao menos respeito às novas construções de museus); não estão nos seus dias a escultura e a pintura. A música não a sabemos seguir como a estas, nem tem na História a importância delas. Mas a constância neste país pertence à poesia. Em todo o século XX é constante é intransigente, e aqui é onde especialmente constatamos um grande número de profissionais a superar o número de artistas: vive-se um sentido profissional da escritura, relacionado com o âmbito de desenvolvimento do ofício/da função social, se esquecendo o sentido enciclopédico da investigação artística.
Nós os Galegos pertencemos à Humanidade, à Europa e à Galiza. Não somos três cousas distintas, senão uma única, enteira, a nossa. Cada indivíduo não pode chegar até si mesmo senão através dessas três unidades a que pertence: o mundo, aquela das cinco partes do mundo onde está a sua terra, e a sua terra. A terra de cada indivíduo não está limitada polas fronteiras físicas ou políticas do seu próprio território, é além disso um pedaço determinado de uma quinta parte do mundo enteiro. E o indivíduo está tão longe de si mesmo que para chegar até si tem primeiro que dar a sua volta ao mundo, completa, até ao ponto de partida. E todo aquele que queira encontrar dentro de si mesmo a sua própria personalidade, ficará romanticamente só no meio das multidões, na mais terrível solidão de todos o tempos, uma solidão onde o próprio deserto está cheio de arranha-céus e as ruas inundadas de gente!
O indivíduo nunca pertenceu a si mesmo. Mas não se julgue por estas palavras que o indivíduo há-de servir apenas de instrumento à sua própria colectividade. Não! nem vice-versa tão-pouco. É um jogo simultâneo da colectividade para os seus indivíduos e de cada indivíduo para a sua colectividade. E se hoje o indivíduo não existe, isto é, se não tem nem pode ter acção própria, não é tal, de maneira nenhuma, porque a colectividade lhe tenha usurpado também o seu lugar, é a penas porque ninguém está capacitado da obediência que deve a si próprio, é apenas por ignorância do que, justamente, ninguém deveria ignorar: o seu próprio destino neste mundo. Voltando aos poetas, é precisamente isto que não assumem, a terem geralmente o ofício de construtores de bibliotecas, sem se questionarem qualquer cousa em termos de fidelidade a si próprios como artistas, e portanto, como indivíduos.
JOSÉ DALAMA (Corunha)
MANHA E FALSO PRESTÍGIO
(A Nosa Terra, A Aldea Global: 7/3/96)
Há, sim senhor! Há uma Galiza séria, uma Galiza que trabalha, que estuda; curiosa, atenta e honrada! Há uma Galiza verdadeira que não perde o seu tempo com inimigos fantásticos e cujo único desejo é apenas e grandemente ser Ela própria! Há uma Galiza, a única que deve haver e que afinal é a única que não anda por causa das várias Galizas inventadas de todos os lados da Galiza! Há uma Galiza profissionalista, civil e insubornável! Há, sim senhores!
Mas entretanto… Entretanto, a nossa querida terra está cheia de manhosos, de manhosos e de manhosos, e de mais manhosos. E uma terra de manhosos não pode chegar senão a falsos prestígios. E vai-se dizer de quem é a culpa de haver manhosos e falsos prestígios: a culpa é nossa, e só nossa! Não há nengum galego, nem o escolhido entre os melhores, que não tenha forte parte nesta culpa. Porque os galegos, os bons, os melhores, os sérios, os enteiros, enfim os galegos (se se entendesse bem esta palavra) não sabem, ou melhor, não desejam luitar contra a manha dos que chegam a ser ou favorecem os falsos prestígios. Ora, a maneira de luitar contra a manha não é o da manha e meia, antes polo contrário, é a de detestá-la absolutamente, e mais, desmascarando-a publicamente e ali mesmo.
Todo aquele que cuide que lhe bastará para progredir na sua profissão o ser probo nos seus estudos e produções, engana-se terrivelmente, pois que lhe falta ainda e sobretudo o seu dever cívico de encarreirar as gentes e livrá-las dos glosistas, pasticheurs e mistureiros de toda e qualquer profissão. É urgente e actualíssimo vir até ao público e denunciar-lhe como o comem por parvo com falcatruas, e lhe dão gato por lebre.
Declaremos a guerra à recomendação, à cunha, ao interesse polo poder de governar-nos, à necessidade de vendermo-nos por um fim que nunca chega, aos que vivem de fazer má literatura desde os púlpitos leigos, à vergonha de não sabermos, talvez, existir…
Mas o nosso combate aos manhosos até hoje tivo o triste resultado de se poder confundir com o dos caluniadores e dos envejosos. Fagamos grandemente atenção a isto mesmo e teremos liquidado o último recurso dos manhosos. Evitemos a nós próprios um desaire a que estão sujeitos os caluniadores e os envejosos, os quais são, bem contrariamente, o único gás com que afinal sobe de verdade os aeróstato do falso prestígio!
Ora, meus senhores/senhoras minhas, nem toda a gente é susceptível de dispor de serenidade, e os menos susceptíveis de todos são francamente os manhosos.
JOSÉ DALAMA (Corunha)
NOTA DO AUTOR: «Todos estes artigos devem ser lidos pelo menos duas vezes prós muito inteligentes e d’aqui pra baixo é sempre a dobrar».
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