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«A poesia é umha forma de ver o mundo?
A gente di que o feito de ser artista fai-che ver o mundo doutra maneira, nom? Escuita-se muito, e é quando menos curiosa a percepçom que se tem de nós. Eu nom gosto de falar da poesia como umha forma de ver o mundo ou das poetas como um ente abstrato, como um coletivo que tem umha mínima percepçom comum do mundo. Seguramente a minha forma de ver o mundo como poeta dissidente tenha mais a ver com essa operária explorada por umha multinacional que com determinada gente autoconsiderada poeta que se une pra formarem umha elite.
Quando escreves pensas numha leitora/leitor imaginária/o? O que escreves vê-se afetado por isso?
Quando escrevo penso em mim. No momento de escrever penso num palco imaginário e eu som o público. Esta ideia coa que levo anos começa-me a parecer egoísta e desde há pouco está a entrar um medo em mim de poder parecer pretensioso, de que o público veja em mim umha personagem impostada, superficial, sem discurso, polo que a raiz disto sim estou a ter em conta ao público pra elaborar o meu discurso estético co que logo criar a poesia.
Crês que há um leitorado de poesia ou que se cumpre essa ideia de que os poetas se lem entre si unicamente?
Eu quiger distinguir entre 3 tipos de público. Primeiro estám essas pessoas coas que tés umha determinada relaçom pessoal (amizade, família…), as quais che mercam o livro por um certo compromisso pessoal. Logo estaria a militância artística, que é essa ideia de que as poetas se lem entre si, umha ideia que muitas vezes admitimos com certa pena de que leitorado e poetas seja a mesma gente. E o último tipo de público seria aquela gente, que sem conhecer-te nem ter um vínculo direto coa arte, nalgum momento lhe chegou algo da tua autoria e se começou a interessar, o qual poderia derivar nesse horror capitalista que é o fenómeno fam ou num seguimento de camarada, de apoio, da tua arte. Nom discrimino nengum tipo de público, bem-vinda seja toda leitora/espetadora, ademais de que adoro a ideia de criar comunidades de apoio mútuo. Bem-vindos sejam os afetos, que de por si som contrários a este sistema capitalista.
Que opinas sobre as redes sociais como difusoras de arte, recitais etc.?
Opino que aquelas artistas que nom estám nas redes sociais estám mais mortas que Lorca. A Lorca matou-no o regime, mas estas artistas que fogem das redes sociais que nos ofereceu a tecnologia contemporânea estám-se a matar a elas mesmas. Estas artistas som vítimas desta ideia hipócrita de que fugindo destas ferramentas tecnológicas estám a ir contra o sistema, e a verdade é que do que estám a fugir é das ferramentas coas que na atualidade se criam comunidades. Se nom estás nestas comunidades, nom existes (sinto dizer umha ideia considerada “mainstream”) […]».
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