Um novo dia abre-se para sacar um dólar mais. Nem mais nem menos. Alá fomos a NY depois de quase um ano organizando as possíveis sessons de ABM com Marcy Lindheimer no edifício Ansonia em Broadway coa 73. Este edifício foi fogar de grandes estrelas, escritores, compositores, jogadores de béisbol, também estúdio de gravaçom, sauna gay, set de cine e hoje vivendas de luxo, e um dos edifícios mais importantes de NY. Ali mora Marcy, ex-pianista quanto à música se refere, que leva 30 anos, quando menos, dedicando-se a tocar nenos-as com diversidade funcional, sendo também importante personalidade no centro de S. Rafael, ao lado de Anat Baniel.
Pagamos liçons com Marcy de 240 dólares cada 40 minutos exatos. Fazíamos duas sessons por dia, com dous dias de descanso. Íamos em carro de Hempstead a Queens com o nosso capitám Juan (arousám que leva 30 anos em América), pegávamos o metro até Broadway e às 12 h. entrávamos na recepçom do hotel. Ali era anunciada Lua (o recepcionista nunca se deu lembrado do seu nome) para subir ao andar 9, um andar com anedotários dentro do Ansonia.
Chegávamos pontuais e aguardávamos que saísse o-a anterior neno-a, muitos deles judeus com os ricinhos ao lado. Às vezes coincidíamos com uma madrilenhamericana de quatro anos que lhe dizia a Lua, Hai! Um dia Lu contestou diretamente o seu Hai! com outro Hai!, e fomos todos muito felizes.
Lu gozou cada toque com Marcy, por vezes em silêncio, por vezes com a sua música preferida e mais propícia para o momento: isso era cousa de Pierrot. Uma Marcy que repetia o importante que era a suavidade e delicadeza com Lua para conseguir movimentos sofisticados na pequecha. Desde que começou com sessons de movimento todos os terapeutas tiverom que adaptar-se a este colo sonoro que ademais de provocar-lhe seguridade, ao meu entender, também lhe dá conexom com o seu corpo. Isto também lho parecia a Marcy, a maior concentraçom corporal que ela tinha graças à música. A medida que iam para diante as sessons, Lu tinha menos rigidez, comia mais, aceitava mais as conversas e os sons do ambiente, dormia melhor, foi-se-lhe o bruxismo nocturno, buscava mais a verticalidade com a sua coluna sentada, aceitava, portanto, melhor a cadeira do carro… Isto é o que podo sublinhar por cima sem atender aos mínimos detalhes de mudança, que também os há. Dumha maneira integral e holística, a nena foi feliz com ABM–Marcy porque estivo mais cómoda no seu corpo. Uma aventura positiva para qualquer pessoa: ser feliz porque tas bem com o teu corpo creio que é do mais importante que pode um ser humano celebrar.
Estivemos diante dumha profissional que leva 30 anos com diversidade funcional em tacto e movimento. Carinho unido a eficácia e pontualidade.
Voltamos com uma disonância e contradiçom na pele. Um sabor agridoce, e um sorriso nos lábios. Umha frustraçom e umha força. Ainda hoje reitero constantemente perguntas que me vinham à cabeça nas sessons ou na volta em aviom, questons que nom tenhem que ter resposta, ou sim.
Perguntas:
Por que tem que ser isto do método Anat um luxo e levar tanto dinheiro? Por que o mundo tá tam ao revês? Porque há financiaçamento para desenhar umha arma infalível ou para matar o Amazonas? Si, sei. Por que as famílias do planeta com pessoas dependentes nom temos num ocidente “tam competente” uma ajuda mais completa? Será que esta “Españita es retrógrada a todos los niveles”? Por que numha situaçom familiar complexa, as terapias de alto rendimento nom tam democratizadas para qualquer neno-a com diversidade funcional sem ter em conta idade e condiçom familiar? Por que o método ABM Feldenkrais nom tá expandido abertamente em espaços de “saúde”, pois nom é invasivo e aprende-se (nos postulados de início quando menos) com prazer? Por que os neonatos nom contam com osteopatia e movimento consciente na incubadora para problemas como explusom do mecónio? Por que a sociedade científica nom investiga mais e a tope sobre o conceito cérebro-movimento? Por que a arte ainda é a pata frouxa nestes casos? Por que o baile e a música nom estám dentro de ABM como resorte fundamental e ajuda no movimento? Se a neurociência já está avançando no estudo cerebral da música, como isto nom é valorado para além do gosto ou entretimento do “doente”? Por que o Sr. Doman tem o seu método estendido por todo o mundo e mesmo na Segurança Social? Por que o Rei Doman, com agora o seu príncipe-herdeiro filho, acreditam tanto na repetiçom e exercícios estruturadíssimos como agentes de recuperaçom feitos polos escravos pais-mais? Por que o Sr. Osborne deu com o Rockefeller da parálise cerebral (Doman) e nom com Anat Baniel tendo ele possiveis? Por que o Sr. Osborne me di que ABM nom funciona e nom vale para nada numha mini-entrevista que tivem com ele, cortada polas suas ganas de ver o futebol e a parca e ingrata apresentaçom que fixo da minha pessoa o sr. Gayoso (ao que lhe agradeco o intento)? Por que o sr. constroi umha fundaçom, para quem e de balde? Por que aceita um método e nom outro? Existe umha escola europeia Feldenkrais e outra americana, as duas levadas por discípulos do sr. Morshe? Por que nom se me fala em três anos de Jeremy Krauss -isto é como quando no mundo da zanfona galega tava proibido falar do elemento ritmico que era o cam-?
Vou-me contestando aos poucos como bem podo atando cabos e caindo-me peças no nosso caminho particular. Se normalizo a situaçom, uns pais enviam uns filhos a umha educaçom ou a outra. Preferem os conservatórios para aprender o que é a música, ou os colégios privados pensando que ao pagar tens mais opçons de educar ou saber. Confiamos na disciplina, no esforço e na obediência e por outro lado escuitamos aos cientistas que se aprende por motivaçom, por emoçom. Trabalhamos no desenvolvimento pessoal mas a soberba e o ego dá-nos más passadas por muito terapeuta que te chames. Seguimos um protocolo de exercícios e deixamos a improvisaçom tam só para os músicos de jazz, como se a vida estivesse estipulada desde a manhã à noite. Quiçá o Sr. Domam é um grande empresário negociador que tivo muito claro até onde chegar e como. Quiçá a Sra. Anat Baniel tem outros objectivos ou nom. Ela segue na sua vida diária os 9 elementos essenciais em que baseia o método que proclama? Atencionalidade, lentitude, variaçom, subtileza, entusiasmo, metas flexíveis, interruptor de aprendizagem, imaginaçom e sonhos, consciência, som seguidos na vida diária dos praticantes de ABM no mundo ou só na camilha? Perceber o diferente é a unidade básica de informaçom neste caso, por vezes namais? Por que manda tanto umha metodologia ou outra, há que agarrar-se a umha?
Começamos com ABM por referência de Chus Domínguez, e entrou-nos na vida Juan Carlos Concha, com quem organizamos sessons e aulas em Galiza pra Rui, Lui e outros nenos ou mesmo adultos. Cuidamos a JC como sabem fazer os-as galegos-as: atençom, respeito, ajuda, alegria, retranca…. e com Marina Oural levamos a cabo 6 sessons em diferentes pontos do país, mais umha programaçom de diversidade funcional e artistica no Concello de Ribadeu, com Serviços Sociais e Cultura, e depois dum ano pendente de cobro. JC foi o primeiro praticante de ABM que tocou a Lua (anteriormente músico): vimos o prazer de aprendizagem da nena e a finura de toque dele. Durante um tempo longo os dous visitarom-se e aprenderom um doutro. Ele foi quem nos apuxou todo este tempo na andaina do neuromovimento cranial, e a ver a Marcy quando tivéssemos dinheiro. Marcy foi também pianista. Anat foi ou é bailarina (ou isso di o seu curriculum).
Ele foi quem nos apuxou para ir a Malhorca este mês de junho a um encontro de especialistas europeus com uma ex-osteopata do centro de Califórnia. Quatro nenos com as suas famílias forom coelhos de Índias num povoado de bungalows de Malhorca cheio de turismo fácil a 30 graus. Ali Silvia, que trabalhou muitos anos no centro de S. Rafael e agora nom, deu aulas e formou. Umha Lua com mocos e tosses aprendeu nas sessons individuais e mostra com Silvia, forom 3. Nas colectivas, numha sala com quatro nenos mais, suas mais-pais mais acompanhantes e praticantes, Lua protestou, nós ajudávamos aos praticantes cambiando de música para que fosse a situaçom do gosto da nena, mas o toque de um e de outros nom fluiu com a nena, goste ou nom, isso foi claramente assim. A empatia, comunicaçom, delicadeza, observaçom de 360 graus pode tê-la ou nom qualquer pessoa, seja estudado ou nom. Nom houvo feed-back entre pais nem comentários de intercâmbio de conhecimentos entre especialistas e pais. Creio indisociável o sentir pai-mai-filha, e mais neste caso: imos na mesma patera. E indo além disto, ademais de pai-mai temos outras funçons, saberes e talentos como indivíduos e por burrâmia, ao meu entender, perde-se informaçom para o trabalho com os-as nenos-as. A importância da voz em Lua, da suavidade que repetia Marcy mil vezes (consegues com máxima suavidade muitas cousas de Lulu), do movimento consciente com a música que escuita no momento, do ouvido fino do que acontece na sala… tudo isso influi numha sessom de jeito fundamental, nós vivimo-lo. Tou tam farta de ter que ficar com a incompreensom no referente ao que lhe dá a música a esta nena… Nom é um gosto, nom é uma banda sonora de sala de espera, nom é umha questom banal como quem tem umha maceta com flores no quarto para adornar. Nem praticantes nem gente achegada se dá conta de que: umha música relaxa os músculos rigidos, outra pom-na em máxima concentraçom, outra fai-na dormir, outra levanta-lhe o ânimo e consegue um ímpeto que a leva a levantar pelve e ser capaz de saltar, outra evade-a do contexto….etc. musica e movimento = música e movimento voz e movimento!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Entom intento centrar-me no que som, no que somos Pierrot e eu como dueto, como trio com Lua. Para nós a música é fundamental na vida, para a nossa saúde geral presente e futura. E para Lua é o seu maior colo. O mundo e sons que nos rodeiam e a energia que nom se palpa. Nom somos disciplinados desde o ponto de vista “convencional “ da palavra, si responsáveis e comprometidos. A nossa vida diária no segundo é improvisaçom, aceitaçom de mudanças e prismas, desenvolvimento pessoal e variaçom de ideias, formas, pensamentos, costumes, movimentos… Somos criadores. Assim vivemos com Lua. Amantes da música e do baile. Compositores. Gente normal que comem graças à música e nom nos sobra nengum peso.
Muita gente di-me que aí tá, que quer ajudar, ajudar-nos. Como? Podem vir fazer um colo para ir eu nadar? Podem esfregar-me a casa? Podem deixar que passe duas horas só? Quem nom sabe como fazer e quer, vou já começar a dizer a verdade. Si, dá-me dinheiro e de propina umha boa conversa. DAS QUE ME NUTRAM E NOM ME CHUPEM.
O dinheiro para ir a Malhorca desta vez veu dum mês do coro e de aforros de Luinha. E para ir a NY foi concedido polos avós de Lua, por minha tia Laura, Agustim e Ana, dous dos meus curmáns, com ajudas e aportaçons grandes e pequenas de amigos-as como Begonha Caamanho, Olga Nogueira, Guadi Galego, Cata Sánchez, Vitor Belho, Pedro Pascual, e em grande medida por umha fundaçom do povo onde nascim, Vilaronte, que deixou criada Manolito de Damián antes de morrer, dirigida a ajudar nenos-as com problemas de saúde e dos que os seus pais tenham falta de recursos para poder estudá-los. O nosso caso levado por Valim, o párroco de Foz, com grande amor e delicadeza.
Seguindo este fio artístico que parece irrelevante e para mim nom o é, atopamos a Irina Mar Go, fisioterapeuta, com os estudos de Feldenkrais e bailarina praticante de Contact Improvisation. Lá em Pola de Siero, graças à madrinha Marina, levamos indo uns meses e cada dia que vou mais claro vejo que a música, a dança, a osteopatia-fisioterapia, Feldenkrais ou Anat dam-se a mao para umha percepçom mais complexa e rica. Vejo à jovem Irina como maga seguindo o movimento da pequena Lua: às vezes a pícara parece um gato, logo um tigre, logo um cosco, e a empatia corporal de Irina (a vocal ainda nom desenvolvida) com ela produz um feed-back interesantíssimo. Cada vez move-se mais, e quer mover-se melhor. Agora tamos nestas, em Asturies de mis amores.
Mas eu nada sei, nem som. Observo, opino, atrevo-me a dizer o que miro em Lua: a felicidade de mover-se com a sua música, a surpresa expressiva na sua face claramente por atopar novas formas de micro-máximo movimento, e a energia que envolve todas essas sessons em arte-saúde.
Passo-me horas bailando-jogando-explorando à minha maneira com ela no chao, no sofá, na cadeira. Portando-a, dando-lhe de comer, falando-lhe. Intentando ser consciente como podo, com grande ignorância do meu corpo, do seu corpo. E cada vez menos também… O jogo salva-me dia a dia, jogo que fai que as duas nos perdemos a rir, por vezes a cantar, por vezes a falar. Tudo, às vezes, impredizível e surpreendentemente sem zonas confort. SI, UMHA. SÓ O MAR QUE RECOLHE O MEU PESO É O MEU CONFORT.
Música. Alison Krauss acompanha-nos desde há 3 anos. Continua a ser importante na vida de Lulu. Aqui vai umha das cançons que dam nome ao artigo com Union Station.
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