A quarta-feira 23 de Novembro, na Livraria Suévia da Corunha, teve lugar o lançamento de Se os Carvalhos Falassem, de Concha Rousia, publicada em Através Editora.
Aproveitamos para lembrar aqui a entrevista à autora e a escolha de poemas do livro já publicados na Palavra Comum há meses.
Também publicamos agora uma parte do texto da apresentação e um poema-diálogo com o livro, por Ramiro Torres:
“Quem temos o prazer de conhecer a Concha sabemos da sua natural capacidade para o afecto e a conversa demorada. Transmite uma energia própria, intensa e atemporal, acompanhada com essa presença serena que leva a abandonar o rumor escuro dos relógios e adentrar-se no bosque profundo e luminoso das palavras partilhadas.
Quiçá seja esta uma das principais maneiras de sabedoria, entendida não como acumulação de conhecimentos, mas como uma sorte de música ou harmonia que vai despertando as diversas capas de consciência que temos habitualmente (demasiado habitualmente, se me permitis) adormecidas. E quiçá, também, seja esta a hora de acordarmos e percebermos mais claramente que a poesia, a literatura, as artes, a própria vida, vêm sendo ferramentas de indagação e recuperação da intensidade que nos configura como seres humanos, como seres em conexão estranha, fulgurante e profundamente real com a existência (sem entrar agora em como chamar-lhe a esse saber, isso é o de menos).
Se Os Carvalhos Falassem, o livro que aqui nos convoca, é uma materialização poética do processo vital da própria Concha.
Estes poemas funcionam ao jeito de um trabalho alquímico, onde os versos acolhem no seu seio os mais diversos materiais sígnicos e vitais da autora, até elaborarem o mapa poliédrico do seu próprio coração. Nessa viagem densificadora transitamos nós, leitoras e leitores, os seguintes percursos que podemos (re)conhecer como nossos:
– A Casa, a Raiz. E com ela a memória, a viagem que ilumina as cicatrizes e permite (re)construir, desde elas, a habitação do seu ser. Neste sentido, reflecte-se na foto da capa, que vem sendo, se não me equivoco, a da casa familiar (é assim?).
Se os carvalhos falassem
escutaria eu não outra fala
meu o refúgio entre urzeiras e carpaços
minhas a paz e a liberdade
meu o meu destino
minha a minha pátria.
– A Terra. A Natureza, Pachamama, Galiza, a Língua, enfiadas numa mesma intensidade reivindicativa, entre dolorida e fulgurante. A consciência dói e, ao tempo, permite (re)conhecer que nunca esta(re)mos vencidas enquanto tivermos a palavra e soubermos desvendar os olhos, cara dentro e cara fora.
Andei descalça pola relva
e a terra deu-me raízes
e contou-me que eu sou dela…
– O Amor. Paira por todo o poemário, com uma força motriz básica:
Como pedras nuas
uma sobre a outra
fizemos parede de amor…
Caímos…
E também na forma dessa consciência inicial de comunicação com o universo:
Nesta hora perfeita inclusive ‘morrer’ parece-me ridículo
nada que eu faça poderia alterar esta magia estelar
este silêncio pleno sem nada a faltar com nada a sobrar
Livro, pois, com diversas temáticas e formas poéticas, desde o verso longo com vontade narrativa até a intensificação expressiva em poemas curtos. Uma viagem ao centro dos seus, dos nossos, mundos.”
***
POEMA-DIÁLOGO
A casa retrai-se para o silêncio
enquanto voltamos ao bosque
com a turbação do poema
a descer como um rio sobre
as vértebras do conhecimento:
fere-nos esta brancura pétrea,
rumor de vertigem emudecida
assaltando os músculos da alma,
incandescendo caminhos desde
a seiva oculta entre a noite.
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