PASODOBLE DO BERBÉS
“Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, sempre haverá guerra.”
Bob Marley.
A noite, camponesa rebelde,
Be la la brega revolta da
perde o rosto;
o trânsito descalço,
com res
tos do seu ras to,
suga o ssssOL
em cada esquina;
das tuas coxas
pingam se
mentes.
Fica o teu cheiro
a tua falta
e o nosso leito
como ampla embarcação
que sai do Berbés
em mares de saliva
de seiva suave de Eva
sem maçã.
A viajar até
A guerr
Ilha vir
Tu………………………………………………..@l
E então soa a canç aão
dos teus pés no chão
e entoam emigrantes
africanos
partituras de montras,
desenganos,
a subasta do peixxxx
e as bermas cheias
de sereias es cravas.
A tua voz é tão teimosa
entre estes versos movediços,
guarda-chuvas roubados,
táxis, polícias, vendedores
de jor nais,
enleados na espinha
dor
sal
da repressão,
na banca rota
bancarrota
banca arrota,
no roteiro da linha da de rrota.
Sinto a tua sílaba d’água
nesta Galiza às vezes
áfono instrumento
na que o mar tam bém
chora de tristeza
e os ciganos mmurmmuramm
alalás sonâmbulos.
Hoje as pétalas murcham
Dolorosas e inúteis
Com a pólv ora molhada.
Inventaremos noites nuas
e furiosas estrelas
para evitar que a brêtema
nos in vada.
Através dos teus OlhOs
a resistência é praia,
a fouce é meia-lua
nas tuas pupil as
e a tua alma sem rédeas
explode como uma granada
na n eve m
alva
desta ma drugada.
ANUVIA
Às vezes é fácil
fugir polo caminho branco
atravessar a orla
do espelho
escapar da miséria
contagiosa
aspirar o recendo
delicado
da discriminação.
Às vezes o tempo
treme
com medos tremendos
e nas profundas
covas dos ódios
agroman estalactitas
e dores
descarriladas.
Às vezes
como Alícia
caemos polo tobo
bebemos lágrimas
misturadas
com cerveja preta,
e achamos em falta
o frio da roupa
polo chão
das madrugadas
o calor das línguas
inexpertas
os filmes
con desconhecid@s;fartos nos têm
os minutos burócratas
as manchas de reproches
nas paredes.
Envelhecem as águas?
O péndulo faz lembrar
ou esquecer?
O sol solta
o cabelo?
Construirei casa
no rio
pra tela sempre lavada?
Quantos poetas chovem
por milímetro quadrado ?
Às vezes gosto
de repenicar
versos
que falam sobre
o arume pingando
o capricho do lixo
as estrelas de lama
nos elos
dos calendários
os dias perfeitos
ardendo
em chamas húmidas
a felicidade musical
nas mucosas
quando os nosos corpos
anuviam
espidos como pássaros.
TAROT
Na beira do silêncio,
no rio que afia
fios de sorrisos,
no divorcio
das abelhas
e os trens rápidos
da incomunicação,
nas minhas pegadas
que arremedam
eucaliptos,
no óxido
nas pálpebras
do pescador,
-tormentelos
que amanhecem
nos seus olhos
de tormenta-,
nas minhas dúvidas
como alga sem raiz,
na insónia
das sementes,
nos muros que dividem
a nossa pele…
são tuas as linhas
desta mão
que o serão
desenha com poeira
quando o vento
se deita
na crina dos montes
e as moças trigueiras
penduram as ondas
nas polas das árvoresda febre,
quando o Tarot
fala dos lobos
da matogueira,
dos nossos gritos
na cozinha;
os arcanos maiores
viram costas
aos telejornais,
a noite cresce
nos caminhos,
os corvos aninham
no teu cabelo
em fervença,
no sofá
a roda do leme
balança
os nossos corpos
e os vizinhos
discutem
quem liga
a lavadora.
ARREFECE
Deixa-me morder essa boca de curcuma
e que os teus olhos durmam o sol
com cantigas-leme que me guiem
até a espuma brilhante
da tua beira-mar.
Deixa-me lavar os cabelos
de bela concubina
que exalam sons famintos
e derramam afagos
de angústia adormentada.
Deixa que o amor peneire
sobre os corpos que pairam,
igual que as báguas quentes
sobre o frio que volta
teimoso nos magustos.
Deixa que a minha língua
esta noite fedelhe
e que ajude a que encha
a maré-solidão
com os cheiros intactos
da rapa das bestas.
Deixa-me apanhar a chorima
sem pranto
e tender-te na cama
ao jeito francês
para sentir a dor
que, de novo, nos salva.
Deixa que a vida escorra
cíclica entre os dedos
e que o lácteo presente
desta noite
esbare os nossos beiços
num fio de esperança.
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