Escreve uma mulher, sem dúvida, e faz certamente para todas as pessoas interessadas no caráter político do corpo, da terra, do erotismo e da história.
O segredo de Sheela-na-Gig é um livro inabordável, imenso como as nossas vulvas, onde cada verso abre um novo roteiro. Ninguém que se adentre nessa vulva enorme sairá indemne, por fortuna. A vida fecunda-se permanentemente, abrindo, desde sempre, novas moradas para quem queira evoluir e aprender, como esta que nos propõe a Iolanda Aldrei.
É neste livro que nos salva e nos sana das inclemência e da dureza da vida, através de seus ciclos, onde se manifesta o eros, em todas as suas expressões, com tendência à preservação da vida, materializada no sexo e no desejo, no ventre fértil, através dos 28 dias: «Palpita na sombra das arestas,/ no trânsito do inverno, /na boca da criação, /no ventre fértil, /no lar das esferas renascidas». E com seu segredo explica-nos como mudamos, nos construímos, crescemos e como melhoramos: «no ninho matricial de trezentas e trinta e duas mulheres».
Proponho-vos penetrar na profundidade que está a aguardar nesta obra para construir de novo as nossas existências, através das múltiplas reflexões arredor da ecologia, do feminismo e da vida em si própria. Iolanda devolve-nos às mulheres o poder telúrico roubado durante séculos e atrai-nos com uma poesia que rompe todas as normas, não está escrita desde o cérebro, senão desde o corpo, em sua luta diária e com os outros. É um livro escrito desde o centro; com as vísceras e com sangue, onde se trespassa a pele, a superficialidade, e chega-se até a carne a latejar, sem fronteiras e já sem medo.
Nele o erótico é bem mais que uma ilusão, é a força que nos move como tribo, a das matrioscas, deusas, das bruxas e de Sheela. É uma poesia que percorre o caminho desde o íntimo até se colocar no social, o percurso do individual ao coletivo que Iolanda visibiliza com astúcia. A leitura do livro O segredo de Sheela Na Gig conduz-nos inevitavelmente às terras míticas e formosíssimas de Tig na Nog; porque a beleza percorre a cada um de seus versos ao igual que o erotismo e que o feminismo. Regressa e une a tradição irlandesa com a nossa através desta deusa da fertilidade, contando sua história que também é a nossa.
Não quero vos desvelar o segredo que tereis que descobrir através desta obra tão necessária que nos brinda Iolanda Aldrei, brava e valente, que diz: «Sou Sheela na Gig». É mesmo.
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