Vozes de algumas vezes
Meu poema não é medido.
É dor branda num coração sentido.
É o clarão da chama
Que queima a alma daquele que o dita.
Oh! O lirismo me possui
Como o vento possui a pipa
Que repousa, pálida, no princípio
Da pálpebra e reduz o pensamento.
As vozes que me falam
Falam, afinal, a todos,
Mas meu verso não repete as vozes que
Ouço, exprime o que minha alma reflete.
Se meu mundo fosse feito de mais paixões,
Talvez minha alma começasse
A soltar seus horrores
Para, conseguintemente,
Viver seus eternos amores.
Pois, mesmo que vozes digam
Que o caminho está construído,
O verdadeiro sentido da vida na verdade
Está guardado no garrido Tutano da existência.
***
Pensamentos da madrugada
Oh, Lua amarela!
Que o brilho que refletes
Banhe não apenas a mim,
Mas banhe também minha doce donzela,
A única que me entorpece ao sorrir
E me toma a mim com apenas um olhar,
Com seus olhos garridos a me florir
O peito e me embebedar.
Bêbado de paixão,
Embriagado de sentimentos,
Ébrio de te olhar.
Mas não cante, minha guria,
Não fale nem ria,
Para que não provoque
Meu pobre coração.
Apenas deixe que a Lua te toque
E, ainda que sozinha,
Há de sentir que contigo estou
Por inteiro e, em mim, em pedaços.
***
O pássaro azul
A Moça se sentou num empoeirado
Banco da Praça da Liberdade
E pensou na felicidade de poder
Ver o quão linda a vida é.
Ela era mais uma apaixonada.
Trazia na mão obras de Drummond e Neruda
E folhas com desenhos avulsos.
Quando se preparou para abrir uma obra,
Um pássaro azul, ao seu lado, pousou.
Ela olhou a bela ave, que cantou
Um canto poético que a lembrou
A obra de Chico e o vento soprou
Seus cabelos, fazendo-a sentir
A doce presença de Deus.
Ela não era igual a outras meninas,
Ela era Diferente.
Ela era capaz de fazer versos
Com as coisas mais simples que
A vida nos oferece, como se
Fizesse um lamento para
Deus abençoar os dias humanos.
Ela continuou olhando a ave,
Então tirou um lápis do bolso
E começou a desenhá-la num
Papel em branco. Ao primeiro risco,
Mais uma vez o vento bateu e
A folha saiu do lugar,
Juntamente com a ave,
Que começou a se aproximar.
E então a Moça sorriu
Um sorriso nobre e brilhante,
Que aos meus olhos era apaixonante.
Ela fez uns rápidos rabiscos e terminou
A ave, apenas em grafite preto,
E então a ave pousou em sua mão.
De repente, a Moça se surpreendeu
E quase ao chão a ave foi
Com o pulo que a Moça deu.
Mas logo a segurou e então a acarinhou.
A ave parecia amar a apaixonante poetisa.
A vida parecia perfeita.
Sol, natureza, poemas e a grandiosa Alteza
Divina presente através da bela princesa.
A princesa não tinha coroa, mas tinha fidalguia,
Pois era divinamente amiga da poesia.
Seus gestos eram poéticos,
Seus versos faziam qualquer ser humano
Sentir seu doce amor e pensar, sonhando,
Como seria o mundo se todas fossem como ela,
A misteriosa, romântica e amável donzela.
Ela se levantou, já quase no fim da tarde,
Com o pássaro pousado na ponta do dedo
E então ele voou alegremente, deixando
Uma pena azul cair aos pés da Moça,
Que sorriu novamente e voltou para casa.
Mas a Moça não sabia que me metamorfoseei
Em pássaro para pousar em seu pensamento
E fazê-la saber, em mais um momento,
Que ela sempre estará guardada em meu sentimento
Trazendo-me a poesia que me leva ao renascimento.
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