As casas são sempre os destinos das voltas,
Uma casa em redemoinho no centro da barriga,
Uma raiz de origem, é provável.
É provável que a volta nos submerja
Ao centro de uma barriga farta de mães
À casa de carne, primeira,
Que em todas as voltas nos abriga.
Deixo o Casa Blanca, com o vento
Antes que o tempo não me permita a morte em casa
E o vento, comigo volta cedo.
*
O amor
é feito de sorrisos e vem de longe.
Vem de outro lado,
onde dizer que te amo, não se diz deste jeito.
Lá, as letras incham de água e juntam-se de outra forma.
Inflamam, ganham peso, perdem peso, voam,
vão ao céu, rodopiam e voltam
e, sem formar palavra, trepidam,
trepidam mais e mais
até se desprenderem no ar.
É disso que o amor é feito;
de tropeços e viagens disléxicas,
de sorrisos, tremeliques e
coisas outras que caem das nuvens
em partículas pequeninas.
*
Um poema nasce como pode.
Pode por uma vontade, um espirro.
Pode por um livro, um texto, ou filme,
um mito, um facto,
um costume ou aquilo que se entenda acostumar.
Pode pelas lágrimas e almas menos salgadas.
Pode pelos limites, pelas bordas, beiras e lados,
pelo extremo, pelas margens.
Pode pela conquista de vastos impérios,
pela terra, pela casa ou toca de lama.
Pode pela carne, batalhas, beijos e cavalos.
Pode pela resiliência, insistência e tonturas.
Pelo tudo, pelo leviano, pelo quase nulo.
Pode pela imagem do que só se sente.
Pode no ocidente,
no oriente e em qualquer parte do peito.
Um poema nasce como pode,
quando pode, a seu jeito.
*
Não há caminho nem desvio que não esse que se afila.
Ferram-se nas costas chicotes e obrigações de sentido:
Ordem; ordem de marcha, galope em frente.
Até que se rasgam em relinche os cascos no arrasto ao fuzil.
Até que se sequem as Bocas e as Pernas nas gagas saídas.
Ordem, marcha, galope em frente.
Porque
o tempo é mais rápido num punhado de tulipas,
Ordem, marcha, galope em frente.
E no peito, em menos de qualquer demora,
uma bala que desliga as resistências do possível.
Ordem, ao chão, a marcha e todo o peso,
por ordem ao chão,
todo o resto da fila.
*
Do dentro dos quartos ninguém sabe
E em floresta densa poucos
Se atrevem.
Abraça-me,
Consubstanciaremos os órgãos e a razão.
Entraremos sem medo, juntos,
Desbravando dúvidas.
Os dois,
Em única maneira de
Questionar as velhas teorias do belo
E manipular a relatividade.
Os dois,
Por todos os fechados dormitórios,
Por todos os solos, subsolos, grutas e amazónias a dentro.
Juntos, entenderemos a assunção do corpo,
Todas as palavras dos poetas inquietos
E por final, quais serão os mistérios da fé.
*
Rui Effe (Portugal) vive e trabalha entre Braga e Lisboa. Vai atuando como artista visual, professor e curador.
Formado pela Facudade de Belas Artes do Porto, pela Escola Superior Artística do Porto , Universidade do Minho e recentemente pela faculdade de belas artes de ponteadas da u. Vigo,, vem desenvolvendo trabalhos de Direcção Artística, de ilustratração para poetas e escritores portugueses, organizando conferências e planos de trabalho dentro da palavra e da imagem.
É um artista visual que escreve e que dá a ler os seus textos a atores dos grandes palcos portugueses e como artista visual vem expondo individual e colectivamente desde 1999. Está representado em inúmeras colecções Nacionais e Internacionais.
https://soundcloud.com/ruieffe-1
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