Fabiana Drapper e Luísa
Luísa é uma menina pra lá de esperta. Seu temperamento se mistura e combina com as ondas e cachos de seus cabelos. Mas, às vezes, aparece uma aranha e aí é só confusão, uma mistura de cabelo, nó, lágrimas e carinho de mãe
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Antes da partida para as férias, e mantendo o espírito de professora de português língua não materna, trago uma entrevista com uma autora de livro infantil. E é sempre bom fazer a nossa parte para incentivar o gosto pela leitura das crianças. A escritora brasileira Fabiana Dapper acaba de lançar a sua primeira obra intitulada Nos cachos de Luísa, Editora Goiabinha, cujo enredo se centra na história de Luísa, uma menina muito esperta e com um temperamento que mistura e combina com as ondas e os cachos dos seus cabelos.
Fabiana Dapper é natural de São Leopoldo (Rio Grande do Sul), é arquiteta, consultora especializada em espaços lúdicos e design para a sustentabilidade.
Como de costume, respondeu perguntas sobre vários temas relacionados com a literatura, a sua escrita e o lançamento do seu livro. Vamos conhecer a escritora!
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Olá Fabiana, e desde já muito obrigada por ter aceitado o convite do Café com Português e da Palavra Comum revista galega de artes e letras. Esta primeira pergunta tornou-se um clássico, pois estou muito interessada em saber a sua resposta e em aprofundar as suas referências literárias. Estou convencida de que, sendo escritora é, antes de mais, uma grande e apaixonada leitora. O que gosta de ler e quais são os seus autores preferidos?
Livros adultos gosto muito dos romances em geral, como da Rosamunde Pilcher, Marian Keyes entre outras de gênero, também curto os livros da Zíbia Gasparetto, mistérios como Agatha Christie, além de livros motivacionais, mas um em especial que gostei e me surpreendeu, foi Cem Dias Entre o Céu E Mar, de Amyr Klink. Já nos infantis gosto muito do Ilan Brenman, Blandina Franco e José Carlos Lollo, Ruth Rocha, Eva Furnari, entre outros.
Qual é o livro que marcou a sua infância?
Rita não grita da Ruth Rocha, me lembro até hoje do texto e das ilustrações, achava bastante engraçado. Mas o que pode ser curioso, é que eu não fui desde criança uma boa leitora, eu tinha certa dificuldade e não fui muito ajudada pela minha escola, pela didática da época. Mas tinha uma irmã que amava livros e isso me marcou muito, eu fui aprender a gostar de ler bem mais velha, tentando vários autores e hoje posso me considerar picada pelo bichinho da leitura. Isso me motiva a escrever e trabalhar em prol das crianças leitoras.
Tenho a certeza de que todos os começos são difíceis para qualquer autora. É por isso que gostaria de lhe pedir que nos contasse em pormenor como começou a sua aventura na escrita, como foram os primeiros passos para dar forma às suas palavras.
Sendo muito sincera, eu não pensava em ser escritora e nem escrever um livro ali naquele momento, eu queria e quero ser ilustradora, mas antes disso sou mãe. Então, estava naquele momento mãe de inventar uma atividade para fazer com a minha filha e sugeri como uma brincadeira de fazermos um livro e assim começamos as primeiras linhas juntas, depois continuei escrevendo mas algumas linhas, lá pelas tantas achei que o texto estava interessante e que eu podia desenvolver o meu primeiro trabalho de ilustração, ainda que fosse fictício, gostei tanto do resultado do texto quanto das ilustrações que resolvi apresentar a alguns amigos e os feedbacks foram positivos. Com isso veio a vontade de publicar, os passos seguintes foram conversar com conhecidos que já tinham publicado, me informar na Internet, fazer curso, e por fim, encontrar uma editora… ufa! Com alguns direcionamentos mais claros, fiz melhoramentos ao livro, tomei uma boa dose de coragem (que significa, fazer mesmo com medo, de que ninguém fosse comprar ou ler!) E assim foi…
A sua primeira obra é Os cachos de Luísa, de onde veio a inspiração para a escrever?
É um livro totalmente inspirado na minha filha, ela é de fato essa menina que tem uma resposta para tudo e em qualquer situação e os cabelos dela, ah! esses dão história, então parei de dizer que davam história e resolvi escrevê-las.
Qual acha que é o papel da literatura infantil na possibilidade da criança ser uma futura leitora?
Sabe a diferença que é uma pessoa aprender uma língua estrangeira quando bem pequena ou quando adulta?! Uma, sem dúvida é um caminho mais fácil e a outra é possível, mas requer algum ou muito esforço! É a mesma coisa, claro, guardando as diferenças individuais de cada um… ser picado pelo bichinho da leitura na infância abre as portas de um universo incrível de diversão e conhecimento inimagináveis, além dos mil benefícios que cientistas e estudiosos da área podem falar a respeito, isso tudo num indivíduo que ainda está formando novos neurônios e gerando mil conexões em seu cérebro, é uma vantagem imensurável!
Qual é a sua sugestão para incentivar que crianças e jovens tomem gosto pela leitura?
Há de se criar um ambiente de acolhimento e prazer. Crianças quando pequenas adoram a companhia dos pais e ter um momento no dia em que esse laço mágico é criado e reforçado através da leitura, sem dúvida traz como benefício não só o hábito e gosto pela leitura como reforça os laços entre pais e filhos, formam se conexões que se mantidas repercutiram por toda a vida dessas crianças e porque não dizer desses pais também. Além disso, a leitura para jovens leitores deve vir sem cobranças, ser um momento de prazer e ponto. Ninguém leva uma criança ao parquinho e fica depois pedindo para a criança dizer qual era a cor do escorregador, porque ficar fazendo perguntas muito específicas sobre o livro? O questionamento pode acontecer, mas de forma livre, podemos fazer perguntas, mas que devem ficar no âmbito do sentimentos, de quais foram as sensações para aquela criança, exemplo: qual a sua parte favorita? Ou a parte que menos gostou? A que achou mais engraçada e aí sim, por que achou engraçada? Mas tudo não gira em torno de uma resposta certa ou errada e sim, das percepções que aquele livro causou naquele leitor. Aliás, estamos precisando cada vez mais seres humanos com menos certezas concretas e mais respeito e empatia com o próximo.
Quantas páginas tem o livro?
O livro tem 32 páginas.
Como é que funciona a questão das ilustrações? É fundamental neste tipo de leitura… O que é que se prepara primeiro?
Sim, as ilustrações são fundamentais nessa fase pelo simples fato de que as crianças até uns 10 anos não são consideradas leitoras fluentes. Um livro com ilustrações instiga a curiosidade e até os sentidos, oferece uma segunda oportunidade de leitura, com recursos gráficos que podem explorar ainda mais elementos do que aqueles descritos só no texto. Sem elas, as crianças podem perder facilmente o interesse pela leitura e isso é algo que definitivamente não queremos. Quanto a ordem se texto ou ilustração primeiro, acho que não existe uma regra, embora uma ordem mais natural é começar com uma ideia e provavelmente texto, mas que depois pode caminhar junto, hora o texto abre espaço para uma ilustração, hora a ilustração abre espaço para continuar o texto, especialmente no meu caso que escrevi e ilustrei.
Quais seriam as possibilidades de trabalho em sala de aula com Nos cachos de Luísa?
Penso que as possibilidades são inúmeras até as que eu mesma não conheço, pois tudo depende do olhar atento e criativo de cada professor, porém eu diria assim de bate e pronto que podem ser trabalhadas as diversas rimas que o livro apresenta, além de trabalhar as questões de auto cuidado, como lavar, pentear e cuidar dos cabelos. Na última página do livro lembramos que cada pessoa tem um tipo de cabelo, então porque não conversar sobre as diferenças, e o que os torna diferentes? Ainda é possível falar sobre desapego, porque não cortar o cabelo, um bom trecho dele? Se ele vai crescer de novo. Enfim… como falei são diversas as possibilidades, tenho certeza que existem outras que eu nem sequer pensei… mas ler o livro junto com as crianças e solicitar delas livremente seus pensamentos, suas curiosidades, pontos de vistas certamente irá trazer outras possibilidades também.
No Brasil, há uma crescente produção editorial destinada à literatura infantil? As crianças estão a ler mais?
Adoraria ter uma resposta para esta tua pergunta, ainda mais se positiva, mas a verdade é que eu não sei. Existem sites que apontam que sim. Acredito que existe uma maior conscientização entre as mães que buscam se informar sobre a criação de um filho, sobre a importância da leitura na formação do indivíduo, mas lembremos, que querer que seus filhos leiam mais, enchê-los de livros, impor horários de leitura, não é o caminho e sim trazer esse universo como um momento de prazer, ainda mais se feito junto com a família, para a posterior, a criança conseguir ter esse prazer também sozinha.
E quanto à Internet, você acha que ela é uma aliada da leitura e da literatura?
Acho que ela é uma faca de dois gumes. Ela pode tanto ajudar, com os sites de literatura, e-books e outros recursos, inclusive transformando a leitura em algo um pouco mais dinâmico nas telas, além das diversas informações que os sites de busca trazem e que nos fazem leitores e consumidores de informações. Porém, devemos ter cuidado também com esse recurso, pois é muito fácil cair no consumo das mídias fáceis , onde não temos nem que pensar apenas assistir passivamente a algo que nos é dado. Temos que nos policiar e criar hábitos saudáveis e pensamento crítico sobre tudo, sem que criminalizemos a Internet por tudo, pois esta já está aí, faz parte desse mundo e das nossas vidas. Temos na verdade que aprender a viver saudavelmente com ela.
Está a trabalhar em novos livros ou projetos? Se sim, o que nos pode contar sobre eles?
No momento ainda não, mas é possível que comece a ilustrar um livro de um menino que fala sobre um mundo mágico. Vamos aguardar pelas próximas páginas!
Nos Cachos de Luísa fala sobre empoderamento, identidade, relações familiares, etc. Por fim, Fabiana, o que esconde Nos Cachos de Luísa?
Uma relação de carinho muito forte construída dia a dia. Pois uma mãe ou um pai, antes de tudo é um ser humano com falhas e imperfeições, mas que decidiram se dedicar a um novo ser humano, esse olhar requer estar disposto a aprender a cada dia, aprender com o seu filho, a aprender com o mundo, com os livros que falam sobre educação e não nos perdemos em ser omissos com nossos pequenos, educar requer trabalho e firmeza, é firmeza de amor, quando você diz um não ou sim, deve estar baseado no que é melhor, ou o que acreditamos ser o melhor para a criança naquele momento, pq a criança está sempre a buscar uma referência e um porto seguro e nós pais temos essa missão, que não é da escola, é nossa!
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Tenho de agradecer um milhão de vezes por esta entrevista com a Fabiana Dapper, uma vez que ela está na promoção do seu livro! Fabiana, muito obrigada pela entrevista! Claro que te desejo as maiores felicidades com este livro e com outros muitos que virão! E espero poder lê-lo muito em breve e utilizá-lo na sala de aula.
Onde podem encontrar a Fabiana
Site: Onde encontrar o livro?
Instagram da autora: https://www.instagram.com/fabi_dapper/
Instagram da editora: https://www.instagram.com/editoragoiabinha/
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