Tradução: Vem o amigo F. D. e não ouve aquilo que não bem tenho para dizer-lhe. Meu amigo é surdo perante quem melhor devia é ficar mudo, o amigo que me queima e me arrasta por uma encosta fascinante que arde.
Meu amigo é fiel, mas eu nem sei a quem. Talvez a uma musa que me elude e me não concede uma baila, ninfeta decorosa que não quer dançar com velhos de corações artríticos e falsos.
Meu amigo conhece uma musa misteriosa que num lugar dança em que o tempo não corrompe nem o baile cansa. Meu amigo tem um poder estrangeiro que me assombra e lhe outorga forças estranhas, uma musa que me recusa, que nalgum lugar recôndito se abre como flor e oferece o seu fascínio, uma musa impenetrável, recôndita e próxima que me atrai até ao abandono, me faz caminhar ao luar e esquecer o lugar em que moro.
Meu amigo guarda um segredo profundo. Um segredo que não confessa para proteger de mim o mundo.
*
Nota: “A língua da musa” é uma visão de Alfredo Ferreiro. A sua tradução para o galego-português foi publicada no fanzine Azertyuiop (nº 105) em Janeiro de 2017.
You might also like
More from Alfredo J. Ferreiro Salgueiro
Tocar na palavra de forma viva | Sobre «Câmara de ar», de Hirondina Joshua
Câmara de ar (douda correria, 2023) é o último livro de Hirondina Joshua. Da Palavra Comum tivemos a honra de …
Tono Galán expus na Corunha | Alfredo J. Ferreiro
Tono Galán (A Corunha, 1967) é um artista corunhês muito polifacético que, embora se esteja agora a dedicar fundamentalmente à …