NOTA DE PALAVRA COMUM: agradecemos a Xosé Lois García a sua vontade de publicar nesta revista o seu livro “África em Sinfonia Solar”, com poemas e desenhos da sua autoria, editado em papel em 2005, promovido desde o Centro Cultural Luso Moçambicano de Lisboa, e dificilmente encontrável a dia de hoje.
Cada poema vai acompanhado do desenho com o que dialoga.
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Introdução
África em Sinfonia Solar, obra poética do escritor Xosé Lois García, a ser publicada no 30º aniversário das datas de Independência dos países africanos de língua oficial portuguesa. É uma obra sintética, mas que expressa com nitidez o reflexo e o sentimento da alma e da luta dos africanos pela sua dignificação e preservação da identidade africana nos últimos cinquenta anos, rumo à libertação.
Xosé Lois Garcia apresenta-nos uma obra composta de doze poemas, verdadeiras doze estrelas a adornar a coroa de homenagem às Mulheres Africanas geradoras da alma do Continente africano através dos tempos. Mulheres corajosas, aquelas que sempre estiveram disponíveis nos momentos de angustia.
Esta sinfonia de poemas compostos de profundos significados sagrados e palavras, como: máscaras, quitandeira, batuque, lembram-nos outras expressões da sinfonia africana, tais como: missanga, capulana, tambor, palavras do vocabulário do sagrado ancestral que comandam a alma e o corpo sensual feminino nas frequentes sessões de dança ritual ou não.
Com esta obra poética de Xosé Lois García, sentimo-nos mergulhados na verdadeira África, exuberante, vestida tanto do mistério da noite da lua cheia, debaixo da abóbada negra sardenta de luzes celestiais. Na mesma África, escaldante, plasticamente vestida de cores quentes do nascer e pôr do Sol ardente. Com desenhos de Merlán (heterónimo de Xosé Lois García).
Esta é a sinfonia da África cheia de feitiços, mistérios e estigmas invisíveis do quotidiano que nunca ninguém conseguirá apagar.
Nunca, nunca!
Lívio de Morais
Presidente do Centro Cultural Luso Moçambicano
Lisboa, 22 de Maio de 2005
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1
As mulheres, leves e vigorosas,
escutam a aflição do mundo
quando um relâmpago patético
não conquista vida sob a estrela.
***
2
Para quem era a oferenda,
para esses gestos sem vida
ou para um corpo vermelho
ardendo em olhada reflexiva?
***
3
Só elas transmutam e dobram-se no tempo
em tudo o que transgride em horizontal.
Mas há uma cor que arde e não flutua
quando os bichos temperam nos olhos
rotundo e elementar respiro da África toda.
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