Antecipar o prazer, como a dor, tem metade de coragem e metade de covardia. O que está por vir, nom existe. Mas imaginas os seus perfis, os cantos e as zonas escondidas. Desenhas os limites, a geografía possível do que vai ser. Pode que dessa maneira estejas construíndo, apenas, um caminho provável. Se nom for ese, como às vezes acontece, também saberás aprender as outras sendas.
Acontece que a arquitectura do caminho, o seu desenho, faz parte da realizaçom. Inventas os passos porque inventá-los é também um impulso. Delicias-te com o percurso antes de que ele exista. Serve para o teu coraçom bater um pouco mais forte e mais alegre.
Sabes que um dia vas fazer o caminho. Sabes que o estás fazendo. Esse imaginado ou outro é algo absolutamente indiferente.
Imaginas os passos, imaginas a forma do pé e que parte vas apoiar por primeira vez. Imaginas a pegada que deixará na areia, a leveza do teu passo ficará apenas uns segundos. E ese passo dado nom se repetirá. Nom tem importância. Nada a tem.
Sabes exactamente a roupa que vas vestir e que cóxegas vai fazer na tua pele. Como o vento mexerá o teu cabelo e, mesmo as lágrimas que terás que verter quando o vento escoça. Sabes que haverá uma mao amiga para quando caias no burato ajudar-te a erguer. Sabes, exactamente, que nada existe para eliminar os buratos. E que isso seja a mais difícil das aprendizagens é apenas uma banalidade.
Sabes que outras como tu estám fazendo os seus caminhos. Reais ou imaginados, tanto faz. Mas sabê-las caminhando dá uma força inexplicável.
Caminhamos. Essa é a medida da nossa felicidade.
O texto é de Raquel Miragaia, e os desenhos obra de Mónica Montero Parcero.
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