NOTA: desde a Palavra Comum agradecemos a Sónia o ter-nos feito chegar as suas visões sobre artes e vida nesta entrevista, ao tempo que sugerimos a leitoras e leitores achegarem-se ao universo criativo desta autora através da sua página web.
– Palavra Comum: Que significam para ti a literatura e as artes plásticas?
– Sónia Sultuane: Um lugar de partilha, da imortalização dos nossos pensamentos e sentimentos. Lugar onde posso ser verdade, sonhos, e fantasias.
– Palavra Comum: Como entendes -e practicas- o processo de criação artística?
– Sónia Sultuane: Para mim é uma necessidade. É o meu limite quando preciso de fugir para dentro de mim. Na literatura o processo fisicamente é menos penoso, mas profundamente avassalador em algumas ocasiões, quando tenho que roubar de dentro de mim para materializar no papel. Em relação à arte plástica, também aqui entro num processo doloroso e vou aos meus limites para encontrar os materiais para me expressar, no tamanho e na forma. Já passaram quase dez anos e continuo sem explicação para o facto de querer sempre verbalizar plasticamente o meu pensamento em formatos grandes.
– Palavra Comum: Qual consideras que é -ou deveria ser- a relação entre as artes entre si (poesia, plástica, fotografia, etc.)? Como é a tua experiência nestas relações?
– Sónia Sultuane: Não me parece haver, necessariamente, uma relação entre si. Muitas vezes no nosso processo criativo/selectivo este leva-nos a juntar várias artes. Sim, todas as artes são belas e transmitem algo. São artes e por isso são fortes. Compete a cada artista ver a beleza delas e pode agrupar e transportá-las para algo “uno” sem maneira de separar em camadas/nomes/categorias, e o resultado final só pode ser chamado de Arte.
– Palavra Comum: Quais são os teus referentes criativos (num sentido amplo)?
– Sónia Sultuane: Hoje tenho várias referências na poesia: Florbela Espanca, Rabindranath Tagore, Eduardo White, Omar Khayyam, Pablo Neruda, Sebastião Alba, José Craveirinha, Sophia de Mello Breyner Andresen, Noémia de Sousa e muitos mais. Em diversas linguagens artísticas admiro Joana Vasconcelos, Antoni Gaudí, David Garibaldi, Thierry Courtadon, Gonçalo Mabunda, Sebastião Salgado e tantos outros. Todos os dias apreendemos a conhecer novos fazedores e pensadores da arte.
– Palavra Comum: Que caminhos (estéticos, de comunicação das obras com o público, etc.) estimas interessantes para a criação artística e cultural hoje?
– Sónia Sultuane: Todos os caminhos que vão lá ter, à Arte. A arte pode, e deve ter, um papel importante na construção de um mundo melhor, principalmente se a arte pode produzir paz, igualdade de direitos, a abolição absoluta da questão racial e da questão das religiões. A arte deve ser um dos elementos fundamentais para construir um mundo globalizado, sem barreiras ou pré-condições.
– Palavra Comum: Que vínculos achas entre Arte(s) e Vida (ou a Realidade, em termos mais amplos)?
– Sónia Sultuane: A arte deve sempre provocar um sentimento, positivo ou negativo, e se puder produzir uma compensação a quem a produz, ainda melhor. A arte é, em último caso, para apreciar, sentir, partilhar, tornar a nossa vida mais bela, sonhadora e também abrir as nossas fronteiras, horizontes primeiro dentro de nós, depois como o mundo.
– Palavra Comum: Que conheces da Galiza e das suas -existentes e/ou potenciais- relações com a Lusofonia?
– Sónia Sultuane: Conheço a Maria Dovigo, que tem trabalhado junto dos escritores da Lusofonia, para a defesa e divulgação da arte e cultura galega. Tive a honra de ser apresentada e cantada por uma músico galego, Fran Pérez (Narf), que tem uma ligação forte com Moçambique e com os músicos moçambicanos. O meu poema cantado por Fran, faz parte de um disco que se chama Aló irmão e onde a Lusofonia também está muito bem representada.
– Palavra Comum: Que projetos tens e quais gostarias chegar a desenvolver?
– Sónia Sultuane: Tenho um projecto que comecei há muitos anos que se chama “Walking Words”, resulta da vontade de tirar as palavras do papel e transformá-las em algo palpável, consegui-las transportar para os sítios mais improváveis, usando todas as linguagens artísticas possíveis para esse fim. É um projecto que gostaria um dia de o tornar na “minha tese artística” para a defesa da literatura na arte e da arte na literatura.
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