ARTIGO EM GALEGO
(ENGLISH VERSION BELOW)
Depois de visitas a neurólogos que nom quixerom explicar-nos pormenorizadamente quais som as áreas de maior afetaçom ou fazer-nos uma leitura didática da foto cerebral desta ampla e “anormal” leucomalácia multiquística de Lua, fomos ao D. Brañas, o que atopamos com ancho tempo para falar abertamente sem que tivéssemos que receber liçons pessimistas, umha palmada nas costas ou o silêncio como resposta. Aquel dia lembro bem que Pierre dixo-lhe a Lua: imos ver um doutor para falar de ti. Namais entrar na consulta Lu emitiu muitos sons distintos. Brañas confessou que nom coincidia o estado da pícara com aquel mapa cerebral de máxima leucomalácia expandidíssima e severa microcefalia. Falou-nos como ABM da plasticidade cerebral e que a sua forma de reconetar-se depende de muitos estímulos e variáveis possíveis, impossível de controlar. Isto foi no primeiro ano de vida indo de aqui para ali, de aló para acó. E cada um-umha atopando no caminho o que chega ou busca.
Lu tivo durante um tempo com nós feed-back com jogos improvisados sonoros atendendo a diferentes ritmos e emoçons. Reproduzia e continua a reproduzir melodias com A do seu papá. Contestava às vogais de Marina, e escuitava as que fomos gravando com outras vozes: de Magín, Uxía, Chus, a sua avó, Antón Porto -que fixo um ditado de vogais multicompleto-, a Ruth… Agora atende-as mas nom as contesta, ainda que na voz de Marina continua a sorrir de jeito cúmplice. Continua a concentrar-se poderosamente ante as declamaçons poéticas que envia a sua madrinha por whatsapp ou a estourar de riso pola sua primeira vez ante um poema chamado “Quem fosse filha do vento” de Mov. (Avel =Auel= Awel= vento em bretom. Isto tá reflectido nalgum dos artigos anteriores enviados a Palavra Comum). Som declamaçons ricas, carregadas de mil melodias na fala e com um arco de sentimentos que move entranhas. Sorri quando escuita a voz de Tiago Abal ou de Romeu. Tanto um como o outro possuem um timbre chamativo porque tenhem umha melodia clara e original na voz, nom lineal. Ri-se muito e responde ante umha paródia sobre um curso de inglês, “Where is Brian?”, com umha voz imitando a John Cleese dos Monty Pythons. Isto lembra-me ao que lim no livro de Anat Baniel: os pais dos-as nenos-as com diversidade era bom que sacassem toda a sua rama de palhaços, ou melhor dito, de nenos-as que também querem jogar.
Por tudo isto comecei a interessar-me ainda mais pola Prosódia. Quando gravava discos, fazia espectáculos (palavra revirada e com nova aceitaçom agora mesmo no meu interior) ou construía cançons, era um tema de especial relevância para mim, o meu talento natural, agora “poc a poc” vou colocando as peças das reflexons, leituras e práticas.
Como e por quê pronunciamos as palavras, cada letra, com que intençom, com que sentir, em que momento, onde tam as paradas, os silêncios, as ênfases, quais som as alturas, porquê esta intensidade e nom outra, que história leva implícita… tudo isto começa a entrar nos meus “seis sentidos”.
Como organizamos o fio de som que escuitamos e que é o que fai perceptível a estrutura profunda da linguagem quando nom vês, nom fixas a mirada como é o caso de Lua e em princípio nom entendes o conceito, a semântica? TUDO É SOM, VIBRAÇOM. E a partir de aí, desde a gestaçom, é o poder comunicativo. Com o som vem a informaçom prosódica, informaçom local, sociolinguística e emotiva. Na fala tá a melodia formada de frequências, a nossa entoaçom, o canto da fala. Na fala sentimos o ritmo, os silêncios a duraçom, a intensidade. A prosódia estuda, ademais da entoaçom, o acento, o ritmo, o timbre e velocidade da fala, a sua pronúncia. Segundo Mora (1995: 15) a prosódia estuda tudo o que cria a música e a métrica da língua. A prosódia, parte esencial da linguística, tem dous estratos: a substância e a forma. O primeiro atende ao conteúdo e a segunda à expresom (Quilis 1993: 410), lim num artigo de Alexandra Álvarez Muros esclarecedor para mim, ignorante do tema a modo filológico.
Aí quería chegar, à expressom, fora dos tipos e niveis propriamente conhecidos: narraçom, monólogo… Nom, nom me refiro a isto, mas a espremer sonoramente e investigar cada palavra-sílaba.
Observo que Lua se interessa: Pola fina exageraçom da pronúncia, mas nom pola interpretaçom histriónica ou vazia de intençom ou sentido consciente de quem emite / Polas oraçons que convertemos em humorísticas na sua entoaçom recorrendo à ironia ou ao absurdo. / A linha entre silêncios e murmúrios também lhe resulta interessante. O respeito, saber quando se deve falar e calar entre duas, três ou mais pessoas, é umha arte / Às vezes tem rido com jogos de sons percutivos na orde de repetiçom, repetiçom e silêncios. / Determinados contos contados com mudanças expressivas firmes cheias de picos de álgida expressom e logo passar à calma. É dizer, umha boa combinaçom ritmica no contar / Vejo como escacha a rir quando Pierre lhe fala em inglês imitando a voz dos Monty numha paródia de curso de idioma. / Vejo como se suaviza a relaçom com ela quando as transiçons entre os 1000 e um ritmos do dia se fai com doçura / Vejo como tem um sentir de energia espacial, consciência “à sua maneira” do espaço. / Tá clara a sua memória musical: timbre, frequências, dinâmicas, acordes, estrutura… porque se antecipa às cançons que já conhece, adianta o que vai vir / Vejo como nom suporta a determinada gente que lhe fala, polo seu timbre vocal ou porque é tam monótona que nom presta interesse. / Vejo que como muitos de nós rende-se ante alguém que canta, fala ou declama com o coraçom na mao, entendo que si me entende a sinceridade dos afectos e do ser. / Vivemos comunicaçons mágicas / Acciona ante a máxima delicadeza comunicativa, quem nom?
Polas manhãs, no despertar, e ao longo do dia também, fago-lhe umha ladainha de elogios: bo ni ta, gua paaaaaa, mag ní fi ca, mag né ti ca (como di D. Tembrás), es tu pen da, fe nó me na, lin da, be le za, lis ta, ru li nha, co rrrrrrosca, chu rrrrus quiiiiiiiiiii nha etc., jogando com a sonoridade de cada sílaba. Ri-se ante algumhas destas palavras. Num princípio pensei que só lhe interessava a melodia que fazia com as mesmas, agora afirmo que também memoriza o som das sílabas.
Às vezes gostaria falar com alguém que soubesse de tudo isto e tivesse feeling com a pícara. Umha neurocientista, científico, investigador, … Alguém que tenha mais informaçom e que nos apareça no caminho como Juan Carlos Concha, ou Irina em Asturies arredor do processo da fala, e também do grande mistério para mim, a vista.
A sua mente parece tar no abstrato, dixerom-me. No seu cérebro há icebergues que temos que rachar, dixerom-me. Temos que ir à sua forma de sentir as coisas, dixerom-me, para trazê-la a este mundo. A que mundo, penso? Como di Tita Lidia no seu conto inventado para que Lua cague: súbete a la luna, Lua, que tú y yo sabemos que es lo que está más alto, siéntate, saca el culillo para fuera y cágate en todo el mundo, que va a ser mucho mejor tu mierda que la que nos está cayendo. Pois isso.
Noutros artigos temos comentado o poder da poesia na saúde, o poder da música, da dança. Mas agora que as artes e as humanidades se vam deixando a um lado em determinados currículos europeus para fabricaçom de pailáns a favor das ignorantes democracias mais produtivas, é quando a neurociência começa a converter em útil o valor artístico. Curiosamente. Chegamos a esta época histórica de mediocridade social, onde, como dizia, Mujica deveríamos investir em educaçom, e depois em educaçom e mais outra vez… Nesta viragem de vida, umha vez criada a Oficina Galega Doutros Assuntos do Movimento, é nela que nos estampamos diariamente na questom de como, desde onde, porquê e para que nos relacionamos entre nós e comunicamos: si, umha questom de primeira ordem mundial. O gesto movimento, a prosódia e os conteúdos, além da carga espiritual de cada ser, som vértebras necessárias para melhorar esta depredadora humanidade que perdeu os passos da natureza e a sua extensa magia. Este anjo de Lua vai-nos dizendo, e quanto mais a escuitamos, mais felizes somos.
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ENGLISH VERSION
We have visited many neurologist who did not want to explain in detail which are the main affected areas of the brain neither to give an explanation of the brain picture of Lua affected by an unusual multicystic leukomalacia. Finally we went to Dr. Branãs. He was available to explain this openly without patronising or avoiding answering our questions.
That day, I remember Pierre telling Lua that we would go to meet a specialist to speak about her. As soon as we arrived, Lu started to produce many different sounds. Branas did not agree with the previous diagnostic. He spoke as AVM about brain plasticity. According to him, the way in which the brain works depends on many stimuli and it is impossible to control. All this happened in the first year of Lua´s life, going up and down, completely lost.
After a while Lu started to reacrt to different and improvised sound games. By then and still now, she repeated her father´s melodies just with one vowel. She reacted aswell to Marina´s vowels and she paid attention to different recorded voices as Magim´s, Uxia´s, Chus´, her grandmother´s, Anton Porto´s, Ruth´s… Now Lua focuses on these recordings but she does not react. However, when she listens to Marina´s voice, she smiles with mutual understanding. She strongly reacts to her godmother´s poetry sent by wapp. She cracked up for the first time in her life with a poem called “Quem for a filha do vento” by Mov. (Avel=Auel=Awel=wind in Breton. This can be read in previous posts on Palavra Comum.) They are very moving. She smiles when she listens to Tiago Abal´s voice or Romeu´s. Both of them have a very specific tone in their voices. She loves to listen to the English parody called “Where is Brian?” in an English language course because of the tone of the voice again (John Cleese from Monty Python). This reminds me that Anat Baniel says that parents should let their inner-child to come out to play.
Finally, I started to be interested about Prosody. When I made records, performed shows or wrote songs, this was a special topic for me. Now I am matching pieces of reflections, readings and practices. Why and how we pronounce words or each letter. Why do we choose this intonation and all the features related to it? Everything starts to make sense to me. And how Lua deals with all of these? ALL IS SOUND. ALL IS VIBRATION. From that point, all is communication. Sound is the base for prosodic information, local information and sociolinguistics. Within the speech is melody based on frequency, intonation and singing of speech. Within the speech, we feel rhythm, silence, length and amplitude. Prosody studies intonation, emphasis, rhythm, tone, speed and pronunciation. According to Mora (1995:15), Prosody analyses everything related to music and metrics in language. Quillis (1993:410) states that prosody is an essential part of Linguistics. It is divided into essence and form. Essence is the content and form is the expression (Quilis 1993: 410). I read all of this in a clarifying article by Alexandra Alvarez Muros when I was unaware of this philological topic.
My purpose is to reflect on expression focusing on the sound of each word and each syllable, not in different types of expression.
I realise that Lua is interested in exaggeration of pronunciation but not in histrionic or empty performance. She is interested in silences and humorous sentences through intonation, irony or absurdity. The balance between silences and rumours is interesting for her as well. Turn of speech is Art. Sometimes she laughs after sound games related to repetition and silence; sometimes, after fairy tales performed with emotive changes of voices. That is a good rhythm performance in the story telling. I can see how she laughs when she listens to Pierre speaking in English imitating Monty Phyton in the episode of the language course. I can see how the relationship with her becomes relaxed when transitions among rhythms are sweet. I can see how she feels the space according to her knowledge of space. It is quite obvious her musical memory: tone, amplitude, dynamism, chord and structure because she anticipates the songs she already knows. I can see how she ignores certain people because of their flat tone. I can see how as many of us, she is delighted about people singing, speaking or declaiming inflaming by the heart. We experience magic communications. She reacts naturally towards kindness as everybody else.
Every morning and during all day, I praise her: beautiful, honey, wonderful, magnetic (as in D. Tembrás), fantastic, gorgeous, clever, darling, sweetie… stressing each syllable. She laughs with the sonority of some of these words. At the beginning, I thought that she only cared about the sounds. Now I started to realised that she also memorise the sound of each syllable.
Sometimes I would like to speak to someone who knows about all of this and who had chemistry with the child: a neuroscientist, a scientist, a researcher or someone with more information about the speech process like Juan Carlos Concha, Irina in Asturias. And someone who knows about the big mystery for me: sight.
Her mind seems to be in the abstract, someone told to me. In her brain there are icebergs, which we have to break, they said. We need to go to her way of feeling things to bring her to our world. Which world? I wonder. As Tita Lidia says in her fairy tale for Lua: “súbete a la luna, Lua, que tú y yo sabemos que es lo que está más alto, siéntate, saca el culillo para fuera y cágate en todo el mundo, que va a ser mucho mejor tu mierda que la que nos está cayendo”. That´s it.
In previous articles we have mentioned the power of poetry in nostalgia, the power of music and dance. But now, when Art and Humanities are missing in some European curricula, in order to make fools for ignorant democracies, it is now when neuroscience makes useful Art. Surprisingly.
We are in this historic time of social mediocrity when, as Mujica said, we must invest in education and then invest in education again and again. In this change of life, after the starting of Oficina Galega Doutros Asuntos do Movimento, we have to stop and wonder how, where, why and for what we connect and communicate to each other. These are essential questions. The gesture, the movement, the prosody and the spiritual content are assets for improving our humanity separated from the Nature and its magic. Lu, this angel, is telling us how and as much as we listen to her, much happier we are.
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