No mundo do capital, nos centros fantasmagóricos dessa deformação da vida, sentimos, sabemos que a cultura, a arte, a literatura, a poesia são impotentes e imediatamente devorados, assimilados e dissolvidos (na expressão que nada diz, nos campos de extermínio, nas escolas, nos vazios meios de comunicação, na erudição que nada descobriu ou inventou), principalmente quando inicia em suportes de crença, em memorialismos, sociologismos e realismos (isso que muda sem nem chegar a ser, só parecendo ser: irreal sem cr.tica), mas a cultura é nossa única resposta ao terror de um mundo predador que já nos prendeu: nos cabe invadir, criar, propor aos poucos uma cultura que sobreviva ao monstruoso mercado-labirinto-abatedouro da normose (benjaminiana/adorniana) da nossa tribo que tudo devora, tudo evaporou, que não afunde na moda, no eu vazio, na língua que ainda é a do colonizador e nos esmaga, nos costumes, nos dias que afundam sem lutar.
Algo que combata com a beleza, a ética, a politicidade e discorde em tempo largo, não afundando no presente, no imediato e compreenda as razões escondidas, descreia de tudo e com as armas próprias da cultura, destrave e arranque os rabos presos do horror em nossos segundos. Essa é a dimensão intempestiva e nossa revista não se reduz a ela, mas esse deve ser o solo buscado, ser o antes e o depois, o dentro de um tempo de guerra e entorpecimento. Com isto pretendemos apreender determinado momento de criação diferenciada que a alguns anos enfrenta a tradição, o eu crítico da poesia, a palavra ingênua de uma beletrismo e superar com uma palavra viva, uma imagem envolvida, momento que se faz agora e é pouco percebido no seu fazer radical, pela raiz, com outra beleza, outra intensidade, uma nova indignação.
Editorial do nº1 da Revista Intempestiva.
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