BERNART MARTÍ: Bel m’es lai latz la fontana (tradução de Graça Videira Lopes)
Bel m’es lai, latz la fontana, erba vertz e chant de rana, com s’obrei pel sablei tota nuéit fors a l’aurei, e.l rossinhol móu son chant sotz la fuelha e·l vergant. Sotz la flor m’agrada douç’amor privada. Dona es vas drut trefana de s’amor, pós três n’apana; estra lei n’i son trei. Mas ab son marit l’autrei un amic cortês prezant. E si plus n’i vai cercant, es desleialada e puta provada. Mas si.l drutz premérs l’engana – engans, si floris, non grana – lai felnei ses mercei, mas ben gart, no s’ensordei. Qui s’amiga vai trichant, trichatz deu anar musant. Amiga trichada, puóis: «Bada, fols, bada!» Be.m det Diéus bon’escarida d’amor; si.m fos ben aizida, lai manei e dòmnei; non es hom que melhs estei. Ges non ai mon cór voiant d’amor, quan m’en vauc prezant per Na Desirada; mas trop m’es lunhada. Tant m’es grail’e grass’e plana sotz la camisa ransana, quan la vei, fé que.us dei, ges no tenc envej’al rei ni a comte, tan ni quant, qu’assatz fauc melhs mon talant, quan l’ai despolhada sotz cortin’obrada. m’amor mis, que.m fo dolçana: ans la·m nei que.m sordei, mas la mélher no.m vairei. L’esparviérs ab bel semblant va del Pueg vés leis volant: la longa trencada, pren lai sa volada. En bréu m’es com fils de lana lo fortz fres e la capsana, qui que.s grei, çó.us autrei, tota.l renga e·l correi. Qu’aissi vauc entrebescant los motz e.l sô afinant: lêngu’entrebescada es en la baisada. |
Doce me é ali, junto à fonte, erva verde e canto de rã, quando se afana pela areia pela noite fora ao vento, e o rouxinhol ergue o seu canto sob a folha, no seu ramo. Sob a flor me agrada doce amor secreto. A dama é, para o amante, malvada se o seu amor por três reparte; é fora da lei se são três. Mas, com seu marido, lhe concedo um amigo cortês e prezado. E se mais vai buscando, é desonrada e puta provada. Mas se o amante primeiro a engana – engano, se floresce, não dá grão – engane-o ela sem mercê, mas bem se guarde de se aviltar. Quem sua amiga vai traindo, traído deve ficar esperando. Amiga traída, logo: “Pasma, tolo, pasma!” Deus me deu boa fortuna em amor; se me for bem azado, logo acaricio e cortejo; e não há homem que melhor esteja. Não tenho o coração vazio de amor, quando me vou brioso por Dona Desejada; mas longe demais está. É tão esbelta, suave e lisa sob a camisa de Reims, que, quando a vejo, por minha fé, não sinto inveja do rei, nem de conde, pouca ou muita; que assaz faço o que me agrada, quando a tenho despida sob cortina bordada. En autr’amistat propdana Noutra amizade mais próxima meu amor pus, e me foi doce: antes a neguei do que me aviltei, pois da melhor não vario. O gavião de belo semblante vai do Puig para ela a voar: o cordel cortado, para lá se ergue no ar. Leve é para mim, como fio de lã, o forte freio e o cabresto, pese a quem pese, isso vos garanto, e as rédeas todas com as correias. Que assim vou entrelaçando as palavras, e o som afinando: como a língua entrelaçada é no beijo. |
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