Foto: “4 portas”, por Maribel Ubeda
Li sobre uma escritora que contava sobre anões, interpelada pela crítica decidiu mudar no livro seguinte, contou sobre um gigante que aos poucos diminuía a altura.
Há alguma coisa que acompanha o poeta? Ou aquele que escreve?
Para Schopenhauer, todas as outras artes são imitação de ideias, menos a música, esta é a imitação da vontade própria, a música tem a capacidade de criar ideia para as outras artes, mas o inverso não é possível.
O poema de Craveirinha é vasto mas em todo há música em forma de ritmo, em forma de ideia não traduzível à matéria, ideia na ideia dentro do poético.
Precisamos de uma canção fora do mundo para a revolução, porque entendemo-nos num espaço que não nos é nosso. A música comanda esse espaço.
Lembro-me de entender Craveirinha numa canção sem poema. Entender o som na poesia de tudo que me chegava. A música como criação parece-me aceitável em paralelo com a palavra. Se a palavra é também som. A palavra é música, como esponja suga o que não é aparente.
Voltando à questão inicial. Há uma coisa que acompanha o poeta ou aquele que escreve?
*
Sinto música no labor de Craveirinha (diálogo com versos de José Craveirinha):
quero ser tambor
versos tchaiam no segredo da noite escura
silêncio amargo da Mafalala
sobre nós a música do quarteto
na insinuação do ritmo
e lá um microfone de alta fidelidade
ampliou cem milhões de vezes o jazz terrível
tchaiam estes versos tchaiam
no último turno dos homens de capacete de lata
dó sustenido por Daíco
a rua vibrava baixinho o som quente da viola de Tingane
a noite estava escura
oh, sangue de minha Mãe
xigubo está chamar
as veias sacras da grande xipalapala
*
Glossário:
tchaiam – bater, fazer soar
xigubo – termo de origem onomatopaica (dos tambores)
xipalapala – espécie de trompa ou trompeta de chifre ou antílope palapala, com que convoca o povo
You might also like
More from Críticas
Sobre “Estado Demente Comrazão”, de Paulo Fernandes Mirás | Alfredo J. Ferreiro Salgueiro
Estado Demente Comrazão é um livro complicado. É por isso que não está na moda. Parabéns ao seu autor!
O tempo das “Não-Coisas”. E o uso excessivo das redes sociais segundo Byung-Chul Han
"O que há nas coisas: esse é o verdadeiro mistério" Jacques Lacan Agarramos o smartphone, verificamos as notificações do Instagram, do Facebook, …