Esta é uma estória real
— Verá, senhora, quando me foi roubado o telemóvel na quinta-feira passada, imediatamente liguei para o seu serviço de atenção ao cliente. Na altura disse-lhes que estava muito nervoso, que me escusassem, mas que era urgente cancelarem a minha linha, caso os ladrões quisessem utilizá-la. Imaginem a fatura que me chegaria depois, pois me roubaram o telemóvel no estrangeiro, na América do Sul, por cima. Verá, tive a imensa sorte que cheguei à casa às carreiras e desde ali, antes de chamar para vocês. Pela computadora, consegui bloquear eu as chamadas de saída e desviei as chamadas entrantes para o meu outro cartão espanhol. Foi por isso que disse à operadora que não cancelasse o meu número, mas ela insistia em o fazer, porque isso era o que dizia o protocolo. Reconheço que fui muito rude, que lhe berrei, mas ela ia deixar-me incomunicado. E ali no meio daquela léria, com uma voz quase que agarimosa, a operadora perguntou-me se já tinha fibra óptica. Sim, cortei a comunicação.
(…)
Finalmente regressei à casa. Foi no sábado. Liguei novamente para a atenção ao cliente para saber como andava a questão do meu cartão. Calmaram-me. Disseram-me que com toda a certeza receberia o meu novo cartão do telemóvel na segunda-feira. Como estava de melhor humor, aceitei a fibra óptica que me ofereciam tão insistentemente. A tarifa reduzia quase dez euros. Comentei três ou quatro vezes que esperassem até a metade do mês, porque na quarta ia de férias. Insistiram que não me preocupasse, que avisariam os técnicos para virem à volta das minhas férias. E assim esperei paciente, até às sete da segunda. E as oito. Nom ia chegar o cartom. Tinha umha viagem pendente. Nom podia ser. Na terça-feira liguei novamente cedo. Estava enojado. O operador disse-me que não me chegara o cartão porque vinha junto com o terminal. Aí saltei. Eu não tinha pedido nenhum terminal. Visto o meu mau-humor, passaram-me para outro departamento. O pedido ficou cancelado. Mas a operadora insistia em me enviar o cartão. Disse que não, que não, que não…
(…)
E há quinze minutos, mesmo antes de a senhora me ligar, quando estava para sair da casa, chamou-me o técnico da fibra óptica. Perguntou-me se podia vir amanhã. Disse-lhe que não e perguntei-lhe se não o avisaram que vinhesse daqui a uma semana. Respondeu que não. Não me surpreendeu. Como ia surpreender-me?
(…)
E essa é a história toda, portanto vou mudar de companhia telefónica.
— Desculpe, senhor Silva, mas não entendo porquê.
*
Fotografia: Alfredo Ferreiro Salgueiro (Londres, 2016).
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