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Africanizando
Quando o meu sonho me ilumina eu
escrevo África.
África me faz e me rodeia. Eu amo
essa gente cheia de África.
O chão da África tem cheiro de mim.
Na África, todos os caminhos nos
levam às fontes da terra e às origens
do mundo.
E o que me torna africano?
É o amor pela terra e pela cultura.
A terra me ilumina.
A cultura me encanta.
Minha alma é atravessada por imensos
rios, como o rio Nilo, que nasce no meu
corpo.
Em mim, há quedas de águas, sobre
mim, caminham cursos de rios.
A maioria dos rios da África nasce no
planalto dos olhos.
Por isso, eu caminho de mãos dadas
com a flora e a fauna.
Sou savana africana de mim mesmo.
A poesia africana é para se vestir dela
e correr poemas pelo mundo.
E eu escrevo para justificar a poesia
africana.
Não acredito na riqueza material fácil e
rápida para todos os africanos.
Mas acredito no ideal de riqueza
espiritual através da promoção da
cultura.
Eu hoje escrevo o coração da África.
Nunca me separo da África porque a
trago dentro de mim.
África é dentro de mim.
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Odisseia da Alma
A alma
é pássaro.
Multicolor e
multiforme.
Ora assume a
forma da terra e
a cor do mar.
Ora assume ao
mesmo tempo a cor
e a forma do vento.
Em verdade, em verdade
o corpo é ramo no
qual a alma decola.
Toda alma é
pássaro terno e eterno.
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O Sonho Africano
Um sonho
se guarda em
volta dos meus passos.
África
sonha quando
escrevo.
Escrevo
para incentivar o
povo africano a sonhar.
Todos os meus
escritos são tentativas de
renascer-me África.
Ser africano
é ser invadido
pelo sonho de liberdade.
Sou um pouco da África que nasce.
Sou um pouco da África que morre.
Sou muito da África que sonha.
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Particularidades do Meu Ser
Minha mãe é a lua,
Sou irmão de todas estrelas,
Filho primogénito do sol,
Neto do ar,
Condão do luar,
Sobrinho do vento.
Eu sou enteado da terra,
Acórdão do céu,
Reverso do arco-íris,
Vizinho de uma formiga,
Advogado das borboletas,
Pai coruja de um beija-flor,
(…) Sou poeira esquecida
nas gavetas de um trovão,
sei que pareço ser estranho,
mas isso
pouco importa, pois não?
Porque, apesar de tudo,
Eu Sou Poeta de coração.
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Morgado Henrique Mbalate, mais conhecido por Morgado Mbalate ou o Anjo das Palavras, é escritor e poeta moçambicano. Nasceu em Maputo, a 6 de Setembro de 1993. Licenciado em Filosofia (USTM). É membro da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO); Cofundador do Círculo Académico de Letras e Artes de Moçambique (CALAM). Autor dos livros Odisseia da Alma (2016); A Arte Suave da Palavra (2020); Co-autor do CD de Literatura Negra O que nos a Bala (2018). De entre prémios e distinções, destaque para o Prémio Bicentenário de Dostoiévski (2021); Prémio Mundial de Poesia Nósside (2014) e Prémio Fernanda de Castro do IVº Concurso Internacional de Poesia e Prosa (2017). Participou da 4ª edição do Festival Internacional Earthquake Terramoto (2021). Seu poema “Africanizando” foi reproduzido em vários livros didáticos do ensino fundamental brasileiro, e seus textos foram traduzidos para francês, inglês, espanhol, italiano, e são estudados em escolas e Universidades em Moçambique e no Brasil.
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