Os livros que mais me impressionam são aqueles em que o autor está ausente deles. Ausência é a presença de significados multivariantes, aquilo que um olhar superficial vê e estremece de dor de não poder penetrar à partida. Tem energia. Envolve os ossos e o sangue. Arrepia.
A obra “Plantar rosas na barbárie” é bárbara, por causa da linguagem, a linguagem está num movimento reinventivo. Sim. Criar é abrir o mundo. E Luís Serguilha sabe disso.
A técnica misteriosa dos espelhos fascina-me! Encontrar-se consigo é encontrar-se com o outro.
– Acredito nisso… Acredito no inverso também (alguém disse).
Falei do encontrar-se para encontrar-se com o outro.
Porque acho impossível ir ao outro sem ti.
Na hora em que sais de lá para cá há uma coisa estranha.
Acho que o mau autor faz isso.O bom leitor sabe quando se usa essa técnica. Porque cria-se ali uma “inverdade”. Porque você sempre vai imaginar o outro. E o outro nunca será. Mas quando partes de ti para o outro. Cria-se luz.O outro é real.
A poesia leva com ela essa essência das máscaras e a primeira infância. Ela foi feita para ser contemplada. Acredito que não há acção mais transformadora do que a contemplação.
Aconteceu o que me tem acontecido quando leio um bom livro: tinha que parar para respirar e criar imagens, é reler e voltar e não encontrar o mesmo texto. Gosto disso.
As pessoas quase não acreditam em nada. Eis que surge a poesia para nos desaprisonar de nós mesmos: a História que construímos e continuamos a errar nela. Plantar rosas na barbárie é acto de fervor.
*
Outra referência na Palavra Comum: «Plantar rosas na barbárie», poesia da falésia
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