GUILHEM DE SAINT LEIDIER (…1165-1195…): Lo plus iraz remanh d’autres chatios7 (tradução de Graça Videira Lopes)
Lo plus iraz remanh d’autres chatios, penrai comjat de jói e de chansôs: amics Badocs, bels companhs amorôs, per vostra mort metrai a nonchaler jói e solatz e alegrar e chan! E quan de vos dic ren mas en ploran, tuta gens, cuit, m’o deia a mal tener. Ai, douç companhs, viatz vai vostre brios! Eu remanh sai marriz e consirôs, tenh me per sols ab autres compagnôs. Sabri’ éu doncs, ses vos, solaz aver? Non iéu, per Crist! Ans vos pliu, ses engan, que, s’éu saubês per un li mort s’en van, los vius laisséra per vos a vezer. Já·m diziatz, Badocs, quant eratz vius: quals que primérs morrís se d’ambedôs parlés ab l’autre. O já tengr’éu a vos! Cossi·us en poc mortz ni alres tener car no·m sonétz quant vos vic en somjan? Já·us soner’eu! Er ai dit falhir gran, amics, ben sai, vos no∙n avetz poder. Francs cavalérs, prós e nominatius, sávis e fols, humils et orgolhôs, larcs e metens, e creiscens e gastôs, qu’anc hom vés prez tant vil non tenc aver, de cortês já fots flors, al miéu semblan, rics de bos aips, qu’anc nulhs hom no n’ac tan; gréu seirá mais hom del vostre valer! Bels Sinher Diéus, Reis gloriôs e pius, per te mezeis merceians, piatôs, reis de mercê, al fort jorn perilhôs, laissa nos ambs en Paradis vezer. Mal o faran Sains Péire e Sains Joan, si·l no méton lai on li·angelh están, qu’anc tan cortês non tengron en poder. |
O mais triste sou dos desgraçados, e despedir-me-ei de alegria e de canções: amigo Badoc, bom companheiro amável, por vossa morte ao desprezo irei votar o júbilo e o prazer, a alegria e o canto! E se algo de vós disser sem ser chorando, toda a gente, cuido, mo deve a mal levar. Ah! doce companheiro, breve foi vosso brio! E eu permaneço aqui, infeliz e coitado, e com outros companheiros solitário me sinto. Acaso saberia eu, sem vós, prazer já ter? Eu não, por Cristo! Antes vos juro, sem engano, que, se eu soubesse por onde os mortos se vão, os vivos deixaria para vos ver. Já me dizíeis, Badoc, quando éreis vivo, que o primeiro que morresse de nós dois ao outro falaria. Bem o cumpriria eu a vós! Como vos pôde a morte ou outra coisa impedir que me falásseis quando em sonho vos vi? Bem vos falara eu! Mas disse tolice grande: amigo, bem sei, vós não tendes tal poder. Franco cavaleiro, nobre e reputado, sábio e louco, humilde e orgulhoso, largo e liberal, generoso e gastador, que ninguém face à honra prezou menos o haver, da cortesia a flor, a meu parecer, rico em qualidades, pois ninguém as teve tantas, dificilmente haverá outro do vosso valor. Bom senhor Deus, rei glorioso e pio, em ti mesmo misericordioso e piedoso, rei de mercê, no forte dia perigoso deixa-nos a ambos no Paraíso ver. Mui mal farão São Pedro e São João se não o metem lá onde os anjos estão, pois nunca tão cortês terão em seu poder. |
Notas
7 Badoc era certamente a alcunha de um amigo chegado do trovador, sendo que a sua identidade nos é desconhecida. Por isso mesmo este pranto, pelo seu tom pessoal e emotivo, difere bastante de todas as outras composições do género, maioritariamente compostas aquando da morte de personagens ilustres.
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